Existem classes farmacológicas que apresentam eficácia comprovada na perda de peso, na melhoria do controlo metabólico e na prevenção e tratamento de complicações associadas à obesidade e à diabetes.
A Diabetes Mellitus (DM), de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), representa um grupo de doenças metabólicas crónicas, com etiologias diversas, caracterizado por hiperglicemia (níveis altos de glicose no sangue), que resulta de uma secreção deficiente de insulina pelas células beta pancreáticas, resistência periférica à ação da insulina ou ambas. Em 2021, em Portugal, de acordo com dados do Observatório Nacional de Diabetes, 14,1% da população adulta entre os 20 e os 79 anos apresentava Diabetes, mas apenas 7,9% apresentava diagnóstico da doença.
A obesidade, por outro lado, é considerada pela OMS como “a epidemia do século XXI” e corresponde a uma doença crónica complexa, onde a gordura corporal anormal ou excessiva (adiposidade) compromete a saúde, aumenta o risco de complicações a longo prazo e reduz a esperança média de vida. Atualmente, cerca de 53% da população portuguesa tem excesso de peso ou obesidade, com uma prevalência crescente, também, nas faixas etárias mais jovens. Assim, a obesidade é considerada um problema de saúde pública muito significativo.
E a obesidade encontra-se entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de DM tipo 2, que representa cerca de 90% dos casos de diabetes em todo o mundo. Efetivamente, as pessoas com excesso de peso ou obesidade têm um aumento do risco de desenvolver DM tipo 2, risco este cerca de três vezes superior ao da população com índice de massa corporal normal. E, se por um lado, cerca de 20% a 30% das pessoas com excesso de peso ou obesidade a desenvolve, por outro, cerca de 90% das pessoas com DM tipo 2 apresenta excesso de peso ou obesidade.
Assim, o tratamento da obesidade é essencial para a prevenção e o controlo da DM tipo 2 e das suas complicações. A perda de peso de pelo menos 5% (perda de peso significativa) está associada a benefício para a saúde, nomeadamente a nível da redução do risco cardiovascular, e a perda de peso superior a 15% do peso basal está associada a remissão da DM tipo 2.
A par da modificação do estilo de vida, com a promoção de uma alimentação saudável e da prática de exercício físico, atualmente existem classes farmacológicas que apresentam simultaneamente eficácia comprovada na perda de peso significativa, na melhoria do controlo metabólico e na prevenção e tratamento de complicações associadas quer à obesidade quer à diabetes, como a doença cardiovascular aterosclerótica e a doença renal crónica. São eles os análogos dos receptores do Glucagon-like Peptide-1 (GLP-1) e os co-agonistas dos receptores do GLP-1 e do glucose-dependent insulinotropic polypeptide (GIP).
Relativamente aos análogos dos receptores do GLP-1, aqueles que atualmente apresentam aprovação para o tratamento da Obesidade são o liraglutido 3mg (nome comercial Saxenda® – o liraglutido 1,8mg, de nome comercial Victoza® não está aprovado) e o semaglutido 2,4mg (nome comercial Wegovy® – o semaglutido 0,25mg, 0,50mg e 1mg, de nome comercial Ozempic® não está aprovado). Estes dois fármacos, em associação à modificação do estilo de vida, alcançam reduções de peso de cerca de 8 e 15%, respetivamente.
Relativamente ao co-agonista dos receptores do GLP-1 e do GIP, a tirzepatida (nome comercial Mounjaro®), foi aprovada no dia 8 de novembro de 2023 pela U.S. Food and Drug Administration para o tratamento da obesidade e encontra-se associada, na dose de 15mg e em conjunto com a modificação do estilo de vida, a uma perda de peso de cerca de 27%. Esta perda de peso é equivalente à perda de peso obtida pela cirurgia bariátrica – o bypass gástrico está associado a perda de peso entre 30-35% e a gastrectomia vertical a perda de peso entre 25-30%.
Assim, e tendo em conta que a obesidade é uma patologia crónica que aumenta o risco de desenvolvimento de diversas doenças (nomeadamente a DM tipo 2), que a perda de peso de pelo menos 5% está associada a benefícios para a saúde e a de 15% a remissão da DM tipo 2 e que atualmente existem fármacos que promovem perda de peso significativa e até equivalente à cirurgia bariátrica (como no caso do co-agonista dos receptores do GLP-1 e GIP, a tirzepatida), parece recomendável e emergente a aprovação em Portugal destes fármacos para o tratamento da obesidade e a sua comparticipação.
* Ana Coelho Gomes - 14 de Novembro de 2023