20.11.23

MEMÓRIAS DE NISA: Os Pregoeiros, esses eternos esquecidos...

 
Os pregoeiros eram os homens que anunciavam as notícias, os nomes dos novos magistrados e as resoluções administrativas ou judiciais, bem como para convocar os cidadãos para as assembleias.
Tinham, nesses tempos, uma função de carácter administrativo, ainda que não remunerada como tal. Mais tarde passaram a "deitar os pregões" a troco de míseras retribuições e anunciando os mais diversos produtos para venda e compra, os perdidos e achados e outros "pregões" menos vulgares. Em Nisa lembro-me, ainda, do ti Carlos dos Pregões, do ti Pexôto e do ti Relvas, este último retratado no livro "Motivos Alentejanos" do prof. João Ribeirinho Leal.
Do ti Relvas, já por aqui passou um dos seus Pregões", o que poucos saberão, talvez, é que aquele homem, que muitos conheceram já no final da sua existência terrena, foi carreteiro de lavradores e tinha uma força descomunal, até que se aleijou. Conta-se que um dia, morreu um boi e ele fez o lugar do animal na carroça, trazendo até à vila uma carrada de centeio.
Todos eles tinham histórias curiosas e um modo muito próprio de "apregoar". O ti Carlos do Pregões era um "enjeitado", nascido na Silveira e criado nas Sarnadas. Veio para Nisa e aqui ficou. Era um homem muito simples e popular, deslocando-se de quando em vez aos "Montes", a pedir algo para se sustentar. Quando batia às portas e lhe perguntavam quem era, respondia humildemente: "está cá o Carlos!
Um dos seus pregões, que já não ouvi, dizia: Quem quisé vendê azêtona / prá água ou pró azête / vá à casa do senhum João Maria Grave /que ele dá sacas e panales/ e escada p´ra colhê. Acompanha os preços mais altos que houvé / prá Companhia União Fabril". 
O ti "Pexôto" tinha uma figura franzina, pouco falador e sempre metido consigo próprio. Um dos pregões que mais deu brado pelo aproveitamento humorístico que se fez da mensagem, era assim: "Qualquer pexôa / que tiver encontrado / a bomba d´uma pecholéra / vá à casa do ti Adelino Rascã / que está lá o done / dá umas boas "alvíssas".
Os pregoeiros, gente simples, gente do povo, deserdados da sorte e de quase tudo, que a troco de míseros tostões cumpriam uma importante função social e comunitária. Hoje recordamo-los com um misto de saudade e ... ternura. 
Nota: Em S. Luís, capital do Estado do Maranhão (Brasil) a figura do Pregoeiro é evocada na história da cidade e homenageada com interessante escultura numa das praças da urbe.