2.8.23

OPINIÃO: E depois do Papa, ajudam os jovens?

Sempre ouvimos dizer que religião e política não se misturam, mas, na verdade, a fusão sempre existiu. A história está repleta de exemplos dessa junção e, recentemente, constatamos como é que alguns líderes políticos se servem da fé para chegar ao poder. Jair Bolsonaro é apenas um exemplo de alguém que usou a Igreja evangélica como uma estratégia pessoal. Seguem-se outros atores. A maior parte de extrema-direita, que encontra na religião a fórmula mais fácil e emocional para enganar os seus simpatizantes, empunhando o lema “Deus, Pátria e Família”. Só que a xenofobia e a homofobia são características de gente intolerante e extremista. Não das boas pessoas. Crentes ou não crentes.
A visita do Papa a Portugal, a propósito da Jornada Mundial da Juventude, é naturalmente muito mais do que um encontro religioso. O próprio líder da Igreja Católica não o esconde, quando coloca as questões da sustentabilidade ambiental como um dos principais objetivos do seu pontificado.
Já sobre os jovens, a mensagem do Papa não poderia ser mais lúcida. E política. “Jesus se une aos numerosos jovens que não confiam nas instituições políticas, porque veem egoísmo e corrupção”.
Nunca fez tanto sentido ouvi-los. Ainda bem que o Papa Francisco o faz e os coloca na agenda política. Todos nós contactamos diariamente com eles, direta ou indiretamente, para sabermos as dificuldades que enfrentam apenas para poderem viver com alguma dignidade.
Sendo Portugal um Estado laico, mas que se envolveu diretamente na Jornada Mundial da Juventude, é, portanto, legítimo reivindicar ação governativa após o encerramento do maior encontro de jovens no Mundo. Cabe aos políticos que vão estar presentes nesta celebração ouvir bem o Papa. Ouvir e agir. Porque já é tarde. Muito tarde.
* Manuel Molinos - Jornal de Notícias- 02 agosto 2023