Sempre ouvimos dizer que religião e política não se misturam, mas, na verdade, a fusão sempre existiu. A história está repleta de exemplos dessa junção e, recentemente, constatamos como é que alguns líderes políticos se servem da fé para chegar ao poder. Jair Bolsonaro é apenas um exemplo de alguém que usou a Igreja evangélica como uma estratégia pessoal. Seguem-se outros atores. A maior parte de extrema-direita, que encontra na religião a fórmula mais fácil e emocional para enganar os seus simpatizantes, empunhando o lema “Deus, Pátria e Família”. Só que a xenofobia e a homofobia são características de gente intolerante e extremista. Não das boas pessoas. Crentes ou não crentes.
A visita do Papa a Portugal, a propósito da Jornada Mundial da Juventude, é naturalmente muito mais do que um encontro religioso. O próprio líder da Igreja Católica não o esconde, quando coloca as questões da sustentabilidade ambiental como um dos principais objetivos do seu pontificado.
Já sobre os jovens, a mensagem do Papa não poderia ser mais lúcida. E política. “Jesus se une aos numerosos jovens que não confiam nas instituições políticas, porque veem egoísmo e corrupção”.
Sendo Portugal um Estado laico, mas que se envolveu diretamente na Jornada Mundial da Juventude, é, portanto, legítimo reivindicar ação governativa após o encerramento do maior encontro de jovens no Mundo. Cabe aos políticos que vão estar presentes nesta celebração ouvir bem o Papa. Ouvir e agir. Porque já é tarde. Muito tarde.
* Manuel Molinos - Jornal de Notícias- 02 agosto 2023