Há dias recebi mais um email, um daqueles que se tornam populares, porque descredibilizam a nossa política nacional. Este, quer mostrar que a Austrália, um território colossal com o dobro da nossa população tem apenas 150 deputados, enquanto Portugal tem 230. Recuso qualquer competição para quem tem a pior ou a melhor democracia e renego estas notícias que além de falsas, pretendem tornar muitas pessoas mais cegas do que já são.
Este caminho é perigoso e leva-nos a acreditar e a aceitar com facilidade num futuro próximo, sociopatas que criticam muito e não solucionam. Bolsonaro prometeu armar as pessoas para se defenderem, Trump prometeu muros comerciais e físicos para proteger os E.U.A. e Boris Johnson garantiu estilhaçar a Europa, assim como o próprio Reino Unido, com a previsível saída da Escócia, que ganhou força para os desejosos da independência que querem continuar na União Europeia.
É bom não esquecer que um pequeno partido que se afirmou como defensor do orgulho da pátria e com um discurso, também populista e xenófobo, beneficiou, para o seu crescimento, da crise económica e social do país. Também, o descrédito nos partidos tradicionais, com o descontentamento popular deram força a este partido, com um discurso agressivo de contestação. Num ápice, tornou-se popular! Pode parecer que estou a falar do partido Chega de André Ventura, mas estou a recuar na história e a falar do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) de Adolf Hitler.
Continuando a falar de sociopatas, Bolsonaro criador do partido do “três oitão”, revólver popular no Brasil, defende que os militares tenham licença para matar na rua; o seu nome está enlameado na morte de Marielle Franco, é acusado de “incitar ao genocídio dos povos indígenas” e de estar a destruir o pulmão do mundo – a Amazónia. Este autoproclamado lutador contra a corrupção, está cada vez mais, desmascarado por estar envolvido em manobras obscuras.
Trump está a caminho da destituição, ou da reeleição, não por ter resolvido os problemas graves dos E.U.A., não por ter construído o muro na fronteira do México, mas por manter a política espetáculo com mentiras, que atrai aqueles que têm preguiça de pensar e mais, de fazerem alguma coisa pela humanidade. Preferem pensar que um louco toma conta do mundo e resolve tudo.
Curiosamente foi com o Conde Stanley Baldwin, um conservador inglês em 1935 que a Inglaterra ajudou Hitler a rearmar-se para iniciar a II Guerra Mundial. Agora, Boris Johnson virou-se para a América e mais uma vez, mostra que os ingleses como aliados, não são de fiar e continuam a justificar, porque deram origem ao termo «amigos de Peniche».
Com um sistema eleitoral muito desproporcionado, os ingleses deram uma vitória histórica a Boris o antieuropeísta que sobreviveu às suas gafes e mentiras, que votou a favor desse erro colossal, que foi a invasão do Iraque e que criticou depois… parece ser este o tipo de político que está na moda.
Por cá a moda passa por um Ventura que é eleito com um programa, que é retirado e alterado após a tomada de posse; programa que não bate certo com o que escreveu na sua tese de doutoramento. São este tipo de políticos populistas que funcionam como um elefante numa loja de porcelanas. Curioso é perceber que há um denominador comum entre Boris, Trump, Bolsonaro e Ventura – a mentira! Uma das grandes armas destes manipuladores perigosos são as fake news.
Ao contrário do que a direita, que sempre predominou no parlamento da U.E. afirmou, não foi a esquerda que colocou em causa o projeto europeu, mas sim, os conservadores europeus de direita. E ainda está para se ver a força da extrema-direita, que promete derrubar este sonho da velha Europa, que paga um preço alto pela sua falta de democracia e de medidas justas.
Mas o tema da atualidade em terras lusas é o OE. Se já provámos o queijo limiano, agora querem-nos a imaginar, a hipótese de nos inebriarmos com uma poncha madeirense. Com os salários a perderem poder, 11 anos seguidos, com a saúde e a educação num estado caótico, era importante que este O.E. respondesse às necessidades. Contudo os jogos políticos e interesses continuam a denegrir e a asfixiar a democracia.
Em Itália as “sardinhas” revoltadas com Salvini cantam a Bella Ciao; começa a faltar «um cheirinho de alecrim» como referiu o recente prémio Camões, Chico Buarque na canção “Tanto Mar” – «Cá estou carente» e a assistir preocupado com tantas pedradas na democracia.
Paulo Cardoso - Crónica -20-12-2019 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre