Ellenborough Lewis comoveu o Mundo. Estava a trepar uma árvore com as patas em chamas. Uma mulher arriscou a vida para o resgatar de um fogo que engole a Austrália há mais de um mês.
O salvamento foi dramático. As imagens tornaram-se virais. Ellenborough Lewis ficou muito queimado. Era velho. Tinha 14 anos. Morreu mais tarde. Eutanasiado. Era um coala.
As chamas mataram mais de mil e destruíram mais de 80 por cento dos habitats destes animais. A espécie pode estar funcionalmente extinta. Mais uma. Até 2050 podem desaparecer do planeta cerca de um milhão.
As imagens da australiana Toni Doherty, a despir o casaco para envolver o coala e a dar-lhe água para beber e refrescar, não são apenas arrepiantes. Representam um planeta a arder, um planeta desflorestado, um planeta seco, um planeta a derreter, um planeta tempestuoso. Um Mundo doente. Um Mundo desesperado.
Portanto, hoje, em Madrid, não se discutem só as alterações climáticas. Discute-se o futuro da humanidade. Antes já se realizaram 63 mil greves climáticas, em mais de 200 países, e conferências, reuniões e palestras que se perderam nas contas.
O tempo já não é de protesto ou sensibilização. Exige soluções, compromissos. De mais verdade e menos hipocrisia, política e económica.
As expetativas são infelizmente muito baixas. Mas esperemos que a Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas seja ambiciosa. Menos retórica. Esperemos que as greves pelo clima não se tornem banais sob pena de perdermos o foco do que é realmente importante. E que os grandes emissores de gases com efeito de estufa, como a China, a Índia, a Rússia, a União Europeia e Estados Unidos, nos salvem, antes das más notícias chegarem.
O Mundo esteve a torcer pela vida do coala. Que torça pela vida de todos nós.
Manuel Molinos in Jornal de Notícias - 2/12/2019