NATAL
Noite mais luminosa que o dia,
Noite de uma poesia singular,
Em que as rosas sorriam nos caminhos,
E as estrellas se punham a cantar...
Noite de nunca ouvidas melodias
Em que um poder ideal mudava tudo.
Em que a néve cahida nas estradas
Tinha a macieza quente do velludo.
Noite em que a lua não viera triste
E andava flôr´s de luz a semear
Nas aridas charnecas que se abriam
Em clareiras brilhantes de luar...
Noite que revelou ao mundo inteiro
Um poema santo que não se traduz,
Pois foi quando Maria, a vez primeira,
Beijou sorrindo o rôsto de Jesus!
Maria Isabel Gamito
Poema publicado no jornal A Juventude (Sines) 1909