26.11.19

OPINIÃO: Estão a matar o Alentejo!

Ainda tenho na memória a reação ambígua de Durão Barroso, enquanto presidente da Comissão Europeia a reclamar o fim dos offshores em resposta à crise financeira de 2008. Todos sabemos que além das fugas aos impostos, é nesse submundo que se escondem capitais criminosos. Então, por que razão a União Europeia tarda em tomar medidas? Afinal quem está interessado no combate à corrupção?
Decerto, não são os transpolíticos, transfigurados em antipolíticos, que não passam de populistas divisionistas, que nada dizem sobre offshores, fundações e os milhões na corrupção do futebol…. Do PS, PSD, CDS e Marcelo, já sabemos que fecham os olhos; estes governantes já aprovaram amnistias para crimes fiscais. Mas o que dizem o Iniciativa Liberal e o André Ventura (Chega) sobre isto? Nada!
Hoje sabemos que, foram os grandes grupos económicos os beneficiados com a crise e a banca privada, financiada com os impostos de todos; sabemos ainda, que entre 2004 e 2016, Portugal perdeu em impostos, mais de 1,3 mil milhões de euros, ou seja, 65% das receitas fiscais, com a fuga de capitais para paraísos fiscais. Só em 2018 saíram do país, cerca de nove mil milhões de euros para esses paraísos fiscais. Portugal é o terceiro país europeu que mais riqueza coloca nos offshores e é o mesmo país, que já injetou 25 mil milhões € na banca com dinheiro dos contribuintes.
Ouvi com atenção o 1.º debate quinzenal, dominado pelo tímido e insuficiente aumento do salário mínimo, o caos na saúde e os problemas na educação com a falta de funcionários. Na Educação assistimos à degradação e a ”solução” encontrada por PS e PSD é entregarem as Escolas aos municípios, que já têm dificuldade de se gerirem a si próprios. Estes partidos, chamam-lhe descentralização, mas arrisco a adiantar que é mais alimento para as engrenagens partidárias, instaladas nas autarquias.
Neste país onde os artistas são marginalizados e a cultura parece ser desnecessária, onde os trabalhadores continuam a ser vítimas de leis laborais da troika, ainda temos um primeiro-ministro que brinca com as palavras e consegue entreter-nos a falar de contratação coletiva… Se não tivéssemos leis assim e uma precariedade por atacado, como é que na Web Summit exploravam jovens da “geração mais qualificada”, como afirma António Costa? Mas a orquestra está afinada e o ministro do ambiente, que em primeira mão disse que não havia falta de água no Tejo, veio depois a mostrar preocupação. Contudo, não exige respeito à Espanha para que discipline os interesses das hidroelétricas espanholas.
Entretanto, temos a direita nos cuidados intensivos e o domínio de Bruxelas nas políticas económicas; o comentador Marques Mendes diz que é preciso uma causa nacional e o povo fica a pensar que causa será essa? Mas a resposta é fácil, para uma questão tão elementar – não há melhor causa nacional do que a vida das pessoas! E enquanto tivermos pessoas sem teto, pessoas com fome, pessoas sem tratamento de saúde adequado e escolas a serem fechadas por falta de condições, este não é o país que resgatámos à ditadura. Estamos a falar de Escolas com amianto a mais e pessoal a menos; de hospitais com problemas a mais e clínicos a menos.
Enquanto isso, o país está a envelhecer sem lares para todos; não damos condições de segurança clínicas às grávidas, permitimos que sejam despedidas, não garantimos creches para todos, mas investimos nos bolsos dos banqueiros. Como querem incentivar as mulheres a terem filhos, se são penalizadas na sua vida profissional? Como querem encorajar a natalidade, se vimos as pediatrias e as maternidades a fecharem? Como queremos evitar que os jovens emigrem, se os salários são miseráveis e a precariedade anda de mão dada com a exploração?
O Instituto Nacional de Estatística diz-nos ainda, que neste país rico em desigualdades, em 2017, as «famílias que fazem parte dos 10% mais ricos detinham 53,9% da riqueza líquida total»[1]. A ganância da acumulação de riqueza, é que está a destruir o planeta. Como é que podemos estar descansados se assistimos estupefactos aos problemas ambientais, subjugados ao lucro? Não é de agora, mas o problema agrava-se. Como exemplo, temos o solo do Alentejo tão castigado no passado, com a cultura sem regras do trigo e hoje, com as culturas intensivas. Dizem-se preocupados com o interior, mas o lucro manda mais e estão a matar o Alentejo!
Paulo Cardoso -  Crónica - 22-11-2019 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre