18.7.19

OPINIÃO: Beata no chão é dinheiro em caixa

 As preocupações com a longevidade da Terra ainda estão verdes, mas felizmente as novas gerações parecem muito interessadas em zelar pelo futuro do planeta.
Não faltam testemunhos públicos desta evidência e ainda há bem pouco tempo estudantes saíram à rua para defender o clima; outros, em circuito privado, observo-os na primeira pessoa, ao perceber a preocupação dos meus sobrinhos. Sempre que me veem a fumar, logo montam guarda à espera de perceberem se coloco a ponta do cigarro no sítio certo. Esta vai ser a missão das autoridades, após a aprovação do projeto de lei que regulamenta o fim que deve ser atribuído às beatas. O Alexandre e o Salvador só não passam multa, mas, à maneira deles, já desempenham as funções da Polícia.
Colocar o lixo no sítio certo devia ser uma preocupação de todos, pelo que até percebo as multas, de 25 a 250 euros, que venham a ser aplicadas aos prevaricadores. Mas é necessário mais. E é absurdo o Estado preparar-se para financiar os proprietários de espaços públicos para estes adquirirem, por exemplo, cinzeiros. Trata-se de uma decisão ridícula, um contrassenso, porque a consciência ambiental não se estimula com subsídios. Esse dinheiro público podia e devia ser melhor utilizado.
Depois, há ainda a questão de entregar aos polícias a missão de vigiar os poluidores, quando já são poucos para perseguir os criminosos. Na Maia, por exemplo, vai ser possível deitar beatas para o chão à porta da esquadra, porque esta encerra com o cair da noite, por falta de efetivos.
Podem sempre meter lá dois miúdos de oito anos (são eficazes, garanto), mas esses não permitirão ao Estado ganhar dinheiro à conta da falta de asseio. A ausência de consciência ambiental é um problema de educação, ou da falta dela. Não seria melhor promover ações de consciencialização junto das pessoas, ou obrigá-las a trabalho comunitário direcionado ao ambiente?
Vítor Santos in Jornal de Notícias - 18/7/2019