Passados que são quarenta e cinco anos do final da guerra colonial, contam-se por largas dezenas de milhar os ex-combatentes que continuam a viver em sofrimento no quotidiano, por via de doenças físicas crónicas adquiridas em terras de Ultramar nas mais miseráveis condições, inclusivamente em combate, sobretudo mutilados, doenças do foro psiquiátrico e/ou psicológico, abandonados pelo Estado português aos seus destinos como se as doenças adquiridas fossem coisa banal, sem que os representantes do mesmo Estado, nomeadamente a tutela das Forças Armadas através dos sucessivos ministros da Defesa, reconheçam esta gravíssima chaga social e continuem a fazer como a avestruz quando desnorteada, ou seja, metem a cabeça na areia e deixam o rabo de fora. Em suma: comportam-se de forma indigna, apanágio dos cobardes.
Conheço bem esta realidade, por dentro e por fora esta “doença” que corrói a sociedade portuguesa. Eu próprio sou ex-combatente. É que para “infelicidade” dos variados governos de turno desde o 25 de Abril de 1974 até esta data, e apesar de em cada dia que passa morrerem ex-combatentes da guerra do Ultramar, ainda assim continuam a sobrar dezenas de milhares deles nesta altura que vos escrevo, o que é uma “chatice”. Para o poder político, a solução encontrada é fazer de conta que não existem, varrer os ex-combatentes para debaixo do tapete da história como as sopeiras relapsas e esperar que o tempo os (nos) esqueça.
Um destes dias o novel senhor ministro da Defesa, como bom paisano, deu um ar da sua graça em “defesa” dos ex-combatentes, prometendo para um dia qualquer de qualquer mês, de qualquer ano, a criação de um cartão de identificação para os ex-combatentes, sem que este traga outros benefícios que não seja simplesmente o portador poder mostrá-lo. Se esta iniciativa não fosse trágica, era cómica.
É simplesmente indecoroso o tratamento que tem sido dado aos ex-combatentes desde o final da guerra que destruiu física e psicologicamente o melhor de algumas gerações de jovens deste país.
Trata-se, evidentemente, de uma medida propagandística sem consequências práticas. Simplesmente este governo deve acalentar secretamente (senão falando entre eles), que aqueles que ainda sobrevivem das guerras em Angola, Moçambique e Guiné, morram quanto antes. É bom que o leitor saiba que estes têm nesta altura idades que oscilam entre os setenta e os oitenta anos e mais.
Como pequeno exemplo do tratamento indigno por parte do Estado português para com quem deu o melhor de si ao serviço da Pátria, permitam-me transcrever para vossa ilustração a mais recente carta de um velho Amigo, ex-combatente, que dele recebi esta semana.
Pedro Pereira - Notícias de Almeirim - 21/6/2019