30.3.18

OPINIÃO: Incompetência ou maldição?

A fábrica dos Robinson ou fábrica da rolha foi ao longo de quase dois séculos um factor de modernidade e desenvolvimento de Portalegre e, sempre, a principal empregadora dos portalegrenses.
Foi-o desde a sua fundação por George Robinson pai em 1840 e principalmente durante a gestão de George Robinson filho e continuou a sê-lo durante várias décadas quando em 1940 a família Robinson se afastou da empresa e esta passou para a posse duma sociedade de capital português.
Desde a fundação até à década de 80 do século passado a Robinson continuou a garantir emprego a um número significativo de famílias portalegrenses e a levar o nome de Portalegre aos vários continentes mesmo quando as rolhas já haviam dado lugar a novas aplicações na construção civil e na aeronáutica.
 Quando a democracia política abriu portas ao regresso dos “velhos senhores”, os “chico-espertos” iniciaram o processo que em diferentes áreas e a coberto do poder político de então, haveriam de abrir caminho ao refazer dos monopólios.
No sector corticeiro também foi assim. No processo de alianças, as aquisições e concentrações criaram o monopólio no sector deixando de fora, por vontade ou não das que ficaram, algumas empresas detentoras de know-how, de clientes, mas necessitadas de mudanças estruturais que os novos tempos impunham.
A Robinson foi das que optou por não se deixar absorver e era no final do século passado “um sobreiro” com trabalhadores dedicados, know-how, clientes fiéis em vários continentes mas totalmente cercada por “árvores de outra qualidade” que assumiu morrer de pé. No sector, passou a nome maldito.
O nome “maldito” colou-se à Fundação que visava manter viva a cultura operária e doar à cidade um espaço de memórias e de futuro e ainda perpectuar a industria corticeira em Portalegre.
O mesmo viria a suceder com uma nova empresa, a Robcork, anunciada em 2009, com o objectivo de continuar a Robinson, mas inaugurada apenas em 2015 e já encerrada.
 Que se saiba, esta empresa nem sequer arrancou com o processo produtivo. Viu ser-lhe declarada a falência em Janeiro deste ano. O Estado Português, detentor de 95% dos créditos da Robcork, recusou a proposta de viabilização apresentada e impôs a falência da Empresa.
É maldição? É incompetência? Os culpados serão sempre entidades e pessoas exteriores à cidade e à região?
Claro que não! Muitas das responsabilidades de chegarmos ao estado actual podem e devem ser encontradas no nosso território, entre decisores políticos e gestores de empresas e instituições mas, reconhecendo-o, é fundamental não perdermos a perspectiva do porquê e quem deve assacar com o principal dessas responsabilidades.
Em relação à Corticeira Robinson está há muito identificada a “culpa”, a qual se deve às alterações estruturais necessárias e que não foram encetadas e à própria autarquia que não soube ou não quis garantir com a necessária agilidade a transferência da fábrica para instalações com as condições necessárias.
Também em relação à Fundação são conhecidas muitas das razões e particularmente as que se prendem com a incapacidade financeira e política da sua principal/única proprietária.
E a Robcork? Talvez também consigamos intuir. Mas é preciso que quem “esteve por dento da coisa” venha explicar o que na verdade se passou. E que não venham com o “paleio” de que se trata de um investimento privado e que, por isso, não tem nada a explicar senão aos seus accionistas.    Naquele investimento privado estão (pelo menos 12 milhões de euros) que serão pagos pelo pagador do costume.
Aguardemos.
Diogo J. Serra