A canção de Geraldo Vandré, celebrizada pelo próprio, pelo
Chico Buarque e tantos outros cantores brasileiros, tornou-se um hino contra a
ditadura militar que sufocava o Brasil. O “falar das flores” convocava, em
mensagem simples e directa, à união dos brasileiros e ao combate à ditadura
pela Liberdade.
Hoje como ontem, no Dia Mundial da Poesia e no ano em que se
evocam os 50 anos do Maio 68, tornou-se, de novo, imperioso e urgente, falar das
flores e lembrar a Liberdade, a conquista de direitos, entre estes, o de
expressão, de reunião e de associação.
A cantiga é uma arma, sem balas, sem mortes, sem violências.
Tal como a poesia que lhe dá sentido e vida. Há quem pretenda, mesmo ao nosso
lado, que a Poesia seja um hino de exaltação do Poder e da Prepotência, a negação
da vontade dos cidadãos.
Anuncia-se a feitura de um livro de poesia “popular”, mas no
qual não cabem todos os poetas populares, do concelho, vivos. Uns, porque são “eruditos”;
outros, porque já publicaram um livro; outros ainda porque têm caras esquisitas
e modos extravagantes. São os poetas malditos, sem aspas nem sufixos. Não se
vergam aos ditames de um poder que, como todos os poderes, é provisório. São
excluídos porque mantêm a coluna vertebral direita, assumem a sua liberdade e
militância política. São, na sua essência, “vermelhuscos” para a alcaidesa que
quer subjugar o concelho. São discriminados por um poder que não tem uma política
cultural, que recusa a cedência de salas municipais (de todos os munícipes e não
propriedade da edil) para a realização de actos culturais e que, a nível editorial,
recusa a uns, o que dá de mãos largas a outros (amigos).
E tudo isso é feito em nome da defesa do “Património” e da “Cultura”.
Parece seguir os "ensinamentos" do outro: “quando ouço falar em c(o)ultura puxo
logo da pistola”.
Hoje, como ontem e amanhã, cantaremos os poetas da
Liberdade. Os poetas malditos que, por serem “malditos” tiram o sono e
atormentam as consciências dos poderes que apregoam a rectidão, mas praticam,
deliberadamente, uma política de discriminação e afrontamento.
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razões
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição.
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer