Antes que o ruído nos mergulhe no ritmo diário da polémica,
antes que os casos se transformem em "sound bytes", antes que as
eleições locais fiquem centradas nos líderes nacionais, antes que as anedotas
ultrapassem as políticas, gostava de deixar alguns dos temas cuja discussão
tornaria profícuo o caminho até ao sufrágio do primeiro dia de outubro e que
julgo marcarão a vida futura de muitas autarquias.
Com isto não quero dizer que não se olhe para trás, para o
mandato que termina, para aquilo que foram as promessas e as realizações dos
eleitos que se submetem novamente ao juízo dos eleitores. Mas essa discussão
está, à partida, garantida pelo trabalho de quem desfia os que estão hoje no
poder.
Olhe-se em frente e debata-se a habitação, que as alterações
da lei das rendas, a pressão imobiliária e o desinvestimento na habitação
social tornarão um dos temas mais fortes nos próximos anos. Especialmente nos
grandes centros urbanos, vai ser preciso moderar a força do mercado com
políticas de equilíbrio e de proteção dos mais desprotegidos. Tenho a impressão
que, a exemplo do que acontece em muitas outras cidades, a expressão
"rendas controladas" vai-se vulgarizar.
E se falamos de grandes centros urbanos é necessário
discutir o turismo, para que aquela que tem sido uma grande fonte de riqueza e
força regeneradora do parque habitacional, não seja sinónimo de
descaracterização e de alienação dos locais do miolo das suas cidades.
Um pouco por todo o lado é premente falar de trânsito. O
modelo do transporte privado baseado na ideia de que o espaço público para
estacionamento é gratuito está exangue. É preciso trabalhar intensamente na
melhoria do transporte público e nas formas de locomoção alternativas como as
bicicletas, para que possamos viver em cidades mais respiráveis e menos
stressantes.
O aumento da esperança de vida faz crescer o contingente da
população mais idosa que também deve passar a estar no centro das preocupações
das autarquias, cujas necessárias políticas de inclusão social devem estar
formatadas para esta faixa populacional.
Muitas destas questões prendem-se prioritariamente com os
grandes centros urbanos, mas aos poucos também farão parte da vida dos
municípios mais pequenos. Para esses, nomeadamente para os que se localizam em
locais de baixa densidade a questão ciclópica continuará a ser a de modelos de
desenvolvimento económico competitivos que permitam fixar populações.
Não parece muito, mas é todo um mundo à espera de boas
decisões democráticas.
David Pontes in “Jornal de Notícias” – 8/8/2017
Quadro: O almoço do trolha de Júlio Pomar