Descrição da parte do Rio Sever, compreendida desde Porto
dos Cavaleiros até à confluência no Tejo, na extensão dos territórios da Póvoa
e de Montalvão.
b) - O Sever no território de Montalvão
Eis os nomes dos portos que existem no rio Sever na extensão
do território de Montalvão, a partir da confluência do rio de S. João, onde
acabamos de o deixar e onde termina o território da Póvoa.
O Porto do Bom-sem, os do Moinho Branco, do Moinho António
Lopes, da Nogueira ou Branquinho, do Artur Novo, do Moinho do Mendes, Moinho de
Pedro Valente, S. Brás, Figueira ou Maria Neta, Dourados, Malhomão, Artur Velho
ou Alagador, Caneiro, Foz.
O Porto do Bom-sem é o primeiro que se encontra
imediatamente abaixo da confluência do rio de S. João. Ao lado, ainda por baixo
e antes do Moinho Velho, fica a ravina ou Barroca da Boiada. O seu vau foi bom
noutros tempos; actualmente encontra-se em mau estado e pouco frequentado. De
lá desce-se ao Moinho Branco ao longo do leito do rio ou por veredas dos dois
lados da Barroca da Boiada. Estas veredas, bem como a que vai para Espanha são
muito difíceis e rudes. Contudo não são das piores e as margens do rio baixam
um pouco neste local.
O porto do Moinho Branco não tem vau mas atravessa-se
ordinariamente o rio de jangada. Os dois acessos desta passagem são rudes e
bravios.
O porto do Moinho António Lopes é da mesma natureza, quer
dizer, não tem vau, passando-se apenas de jangada e os acessos são bastante
difíceis. Não servem regra geral para passagem mas apenas à comunicação normal
das pessoas de uma e outra margens que se dirigem a estes moinhos.
Vem em seguida o porto da Nogueira ou Branquinho. O seu vau
é bom no Verão, mas não praticável em todos os Invernos. As passagens são muito
razoáveis, o que lhe concede o terceiro lugar entre os melhores portos desta
parte da fronteira. A melhor é a do Artur Novo e a seguir o da Figueira ou
Maria Neta.
O porto do Artur Novo é um dos melhores e o melhor destes
lugares. Consequentemente é muito frequentado. É muito perto de Montalvão, a
cerca de meia légua. O seu vau é bom em qualquer época. As margens do rio, que
baixam consideravelmente neste lugar, tornam as passagens muito fáceis em
comparação com as dos outros portos. O lado de Espanha tem duas passagens,
sendo uma delas, preferível à outra.
O Moinho do Mendes não é um porto, porque não tem vau nem
passagem para Espanha. O que conduz a Montalvão é de acesso difícil, porque as
margens do rio são aí muito elevadas. Desce-se para o Moinho Velho por uma
vereda má, não existe vau, os animais passam aí geralmente de jangada. A rampa para
Espanha é regular.
As veredas do porto de S. Braz são más, mas há pior, e não
há vau senão de Verão.
O facto do porto da
Figueira ou Maria Neta ser bom dá-lhe o segundo lugar depois do de Artur Novo.
As margens do rio baixam consideravelmente neste lugar; o seu vau é
imediatamente abaixo da ravina e do rio da Maria Neta. É frequentado em
qualquer época na margem esquerda do lado de Portugal; há duas veredas, uma à
esquerda da ravina ou barroca da Maria Neta e a outra à direita, esta última a
melhor e mais frequentada.
O lugar dos Dourados não é um verdadeiro porto, porque não
possui passagem que leve a Espanha. O seu vau, que é mau, apenas serve às
gentes de Montalvão, que aí vão cortar lenha para aquecimento, dos dois lados
do rio, sendo a vereda, em Portugal, muito irregular e difícil.
O mesmo se passa com a vereda do Malho-mão que só serve aos
pescadores e aos que vão cortar lenha ou lavar o linho. Não há saídas para
Espanha.
O porto do Artur Velho ou Alagador tem muito más passagens,
com vau apenas no Verão. Os habitantes das duas margens apenas o utilizam para
a lavagem dos linhos.
O porto do Caneiro tem maus caminhos, o de Portugal é o
melhor. O seu vau só serve de Verão, só praticável no Inverno raramente e com dificuldade.
O porto da Foz é o que atravessa o rio junto ao Tejo. As
margens baixam muito neste local, de maneira que os caminhos são bastante
suportáveis. O vau é bom no Verão, raramente praticável no Inverno. Este porto
é muito frequentado por quem vai de Montalvão para Ferreira, que é quase uma
légua. Este local situa-se, como já dissemos, em Espanha à esquerda do Tejo. Aí
existe um porto e uma barca para atravessar o rio e passar à Beira.
* Texto retirado de "O Génio Francês em Portugal Sob o
Império" - Aspectos da sua actividade na época da invasão e da ocupação
deste país pelo exército de Junot (1807-1808) " - António Pedro Vicente