Rancho do
Arneiro em Cortejo de Oferendas (1950)
Eram estas
as iniciativas que se realizavam, de norte a sul do país, como forma de superar
as carências financeiras do Estado Novo e das autarquias que sofriam de um mal
crónico e endémico: a falta de verbas para resolver problemas elementares.
Eram, pois, os cortejos de oferendas que garantiam uma parte considerável do
financiamento para as obras de construção, ampliação e/ou remodelação de
hospitais nas décadas de cinquenta e sessenta, construções e melhorias só
possíveis com as dádivas das populações locais que, muitas vezes e num exemplo
de verdadeira solidariedade, tiravam da boca e do pouco que tinham, os magros
proventos para ajudar e contribuir numa causa que era de todos.
No caso do
Arneiro, na altura pertencente à freguesia de S. Simão, a contribuição e o
envolvimento directo da população no Cortejo de Oferendas a favor do Hospital
de Vila Velha de Ródão é, ainda, um facto mais notável, por se tratar de ajudar
uma estrutura e instituição de um concelho e região a que não pertenciam.
A
explicação residia, na altura, como ainda hoje, nas relações de proximidade e
afectividade existente entre as duas povoações de uma e outra margem do Tejo.
A
participação do Rancho do Arneiro, dirigido por Francisco Diogo Pinto, no
Cortejo de Oferendas, realizado em 10 de Setembro de 1950, a favor do Hospital
de Vila Velha de Ródão teve um assinalável êxito.
Homens e
mulheres, na sua maioria jovens e envergando os trajes típicos dos pescadores,
a actividade económica mais importante dos designados Montes de Baixo,
desfilaram pelas principais ruas da vila rodense entoando canções populares, de
que deixamos aqui algumas quadras.
I
Arneiro,
terra de amores
Viçoso como
alecrim
Aldeia de
pescadores
Cheia de
flores
Tu és assim
II
O teu
sorriso de glória
Realça a
tua nobreza
Embora bem
pequenino
Deu-te o
destino
Tanta
beleza
Coro
Ó minha
aldeia
De pobreza
revestida
Embora feia
Para mim é
s a mais querida
A tua graça
No mundo
não tem rival
Onde quer
que a marcha passa
Mostra que
esta raça
É de
Portugal!
III
Lá vão na
marcha contentes
Rapazes e
raparigas
Mostram-se
audazes, valentes
Ei-los
sorridentes
Não mostram
fadigas
IV
Todos
cantam, todos bailam
Num
conjunto verdadeiro
Cantam p´ra
todo o cortejo
Viva o
Alentejo
Viva o
nosso Arneiro!
A finalizar
a sua participação no Cortejo de Oferendas, o Rancho do Arneiro não escondia o
fim que ali os levara e, em jeito de despedida, cantaram:
Trazemos
pão
Azeite
louro
E a nossa
fé
Que é o
maior tesouro
Fé no
futuro
De Portugal
E fé no
carinho
Do nosso
Hospital
Vivam
senhores
Por largos
dias
Deus nos
proteja
E dê muitas
alegrias
Quem faz o
bem
Empresta a
Deus
Senhoras e
senhores
Dizemos-lhes
adeus.
in
"Jornal de Nisa" nº 264 - Outubro 2008