Depois das entrevistas do Soares e do Sócrates em linguagem de
camionista (sem querer ofender os camionistas, pessoas que muito prezo pelo seu
civismo na condução, ao encostarem à direita, reduzir a velocidade e
fazendo-nos sinais de luzes para que os ultrapassemos em segurança), resolvi
não escrever mais palpites sobre política ou a situação do país, etc.
A partir de agora só escrevo redações como fazia na escola
primária, inocentes e ingénuas e por favor não vejam nesta dialética segundos
sentidos ou frustração de expetativas.
Os meus agradecimentos a quem ler e desculpem lá a maçada.
Portugal
Portugal é o país onde eu nasci.
Portugal é um país muito lindo e bonito.
Portugal tem tudo:
Mar, praias, cidades, campo, ilhas, planície, montanhas e, até,
planaltos.
Tem verdejantes prados onde pastoreiam simpáticas vaquinhas que
sorriem para nós e nos piscam o olho, mas que nos dão bom leite para bebermos,
fazer queijo, yogurte, manteiga e ainda nos dão saborosa carninha para bifes.
Ainda temos peixe fresco, marisco apetitoso, ovelhas
branquinhas, cabras estonteantes, porcos foções comendo bolota, fruta fresca
todo o ano e mel das azafamadas abelhas.
Às vezes, ardemos no verão mas isso é apenas para as noites
serem mais quentes e luminosas.
Portugal é um país onde os ricos se deslocam aborrecidos nos
seus bólites topo de gama e último modelo e os outros deslocam-se em carros
velhos, presos por arames, e no interior pobrezinhos, humildes mas contentinhos
da silva para irem ao médico, junta de freguesia, finanças... vão de carroça
puxada por jumentos ou bois. É muito peculiar e agrada muito aos turistas.
E lá em cima, no céu azul, brilha o sol da nossa simpatia.
Em Portugal temos um governo que tira aos pobres e dá aos ricos,
mas compreendemos isso, afinal sempre foi assim e sempre assim será como diz o
fado nosso lamento nacional de um povo que lava no rio as tábuas do seu caixão.
Portugal tem as prisões a abarrotar de perigosos pilha galinhas
mas os senhores de fatinho, gravata e sapatos tão bem engraxados que se podem
pentear neles como se fossem um espelho gozam de imunidade, roubam, roubam aos
milhões, mas com simpatia e elegância, coitadinhos, perdoas-lhes tu com uma mão
que eu perdoo com a outra.
Em Portugal tratamos os inimigos ou quem não gramamos com
piadinhas e risota, até o ódio tem alegria, nos outros países anda tudo à
estalada e a atirarem petardos uns aos outros. É um país muito calmo e de
gentes pacíficas.
Em Portugal temos Fátima onde no dia 13 os bispos nos ordenarem
que tivéssemos fé.
Temos a CGTP que organiza manifestações e no final das quais o
senhor Arménio Carlos nos recomenda esperança.
Os portugueses gostam muito de viajar, por isso há portugueses
em quase todos os países do mundo, mas não são emigrantes como se diz, são
viajantes uns, turistas outros.
Em Portugal ainda se espera por uma manhã de nevoeiro que nos
devolva o D. Sebastião.
Em Portugal, como dizia Mário Cesariny de Vasconcelos “a
imaginação não pode voar alto porque o teto é muito baixo”.
Portugal é um país bonito
e lindo.
Portugal é o meu país.
Jaime Crespo
Cartoon de Henrique Monteiro