«Os Francezes , e os Hespanhoes, passaram o rio … no primeiro
deste mez, e no mesmo dia se rendeu a Cidade de Nizza, levanto o seu Magistrado
as chaves ao Infante D. Filipe. No dia seguinte começaram a bater o Forte de
Montalvam, que dista 16 mil passos de Villa-Franca e defende o porto da dita
Cidade»
Quem, em Portugal, lesse apenas este extracto de uma notícia
publicada pela Gazeta de Lisboa nº 20 de 19 de Maio de 1744, pensaria,
certamente, estar a ler um relato de um qualquer combate na região entre Nisa e
Montalvão. Na verdade, trata-se da região do Piemonte em Itália.
Vem isto a propósito da teoria, várias vezes difundida, que
Nisa, Montalvão e Tolosa, devem os seus nomes a colonos franceses que, em dada
época e no âmbito das políticas de repovoamento de Portugal, aqui se teriam
fixado. Assim, Nisa derivaria de Nice, Montalvão de Montauban e Tolosa de
Toulouse. A teoria até parece fazer sentido porque, na verdade, houve colonos
franceses que se fixaram em Portugal, nomeadamente na região de Montalvo, mas
tem um senão. Nisa, Montalvão e Tolosa existem em França, mas também na Itália.
Perante esta realidade teríamos que admitir que a origem dos
nomes destas terras portuguesas poderia ser, tanto francesa como italiana ou
espanhola, então que os nomes das localidades italianas e espanholas também
tiveram origem francesa.
Não sabemos o verdadeiro significado de Nisa ou Tolosa, mas
Montalvão é um aumentativo de Monte Alvo
(branco), tal como existe o diminutivo Montalvinho. Logo, em qualquer lugar
habitado por gente com língua de origem latina, era possível ter surgido, e de
forma independente, qualquer um dos nomes referentes a um monte branco,
possivelmente um monte sujeito a nevões.
Um bom exemplo do surgimento do mesmo nome em vários lugares e
países sem ligação entre si é o de Vila Franca, também referido na notícia da
Gazeta de Lisboa. Este nome existe em França, Itália e Espanha. Em Portugal
podemos apontar, entre outros, Vila Franca de Xira, do Campo, do Centro, do
Rosário, etc. Apesar do termo franca poder remeter para França (francos), a
verdade é que a sua origem deriva do facto de, nessas terras, se realizarem
feiras francas (livres).
Estamos pois, em crer que a teoria da origem francófona dos
nomes das terras do Nordeste Alentejano é, no mínimo questionável. Se, quanto a
Nisa e Tolosa, não há dados que permitam estabelecer, com segurança, uma
fundação anterior ao nascimento de Portugal, já
quanto a Montalvão não restam dúvidas de que o seu castelo existia já
durante a dominação árabe.
Em função do exposto parece-nos muito mais útil buscar uma
origem mais remota para estas localidades, com raízes no seu próprio povo, em
vez de duvidosas hipóteses migratórias.
Jorge Rosa