São documentos "históricos", estas fotos que aqui apresentamos, tiradas na década de 80, quando a "Vila" ainda era o "Japan" e a ideia de "Centro Histórico" ou de "Bastide" não faziam parte da terminologia local.
O PREC e a Dinamização Cultural do MFA tinham ficado para trás.Mas, no alvorecer de um novo poder autárquico, foi dada primazia às reivindicações populares, ao contacto com o povo, à auscultação dos seus problemas e das suas aspirações. Sem grandes meios técnicos e tecnológicos, a convocação dos habitantes era feita porta a porta e, à noite, no largo principal da "Vila" (o Canto Poço) improvisava-se a "sala", cada um levava a cadeira de casa e completo o auditório, os autarcas expunham as suas razões. Ouviam também as dos moradores e, desta troca de opiniões, nasciam as ideias para os projectos e as intervenções.
Algo se fez no agora designado "Centro Histórico", mas este foi perdendo população, na proporção inversa em que apareceram normas técnicas, entraves burocráticos, leis e regulamentos de toda a espécie. Mexer numa "pedra" no Centro Histórico tornou-se no cabo das tormentas e a parte antiga da vila tornou-se, aos poucos, uma sombra daquilo que foi: ruas cheias de gente, pobre mas alegre, animação, vida.
Hoje, sobram os fantasmas. As casas fechadas, algumas entaipadas a cimento, edifícios com as frontarias a mostrarem as ruínas e mazelas dos interiores, edifícios públicos degradados, casas que foram berço de gente célebre sem uma pequena menção a dignificar-lhe a nobreza da sua origem.
Trinta anos depois, não será fácil devolver ao Centro Histórico algum do brilho que já teve. A excessiva burocracia, a teia de regulamentos e pareceres técnicos dependentes dos gabinetes de Évora, a falta de autonomia do poder local e de meios financeiros, constituem poderosos entraves à tão desejada intervenção de fundo. A reabilitação da "vila" é urgente. Pelo seu passado histórico e património, mas, sobretudo, pelas suas gentes e pelos afectos que continuam a partilhar num espaço que encerra as suas histórias de vida.
O povo é quem mais ordena. Façam-lhe a vontade!
Mário Mendes