Outubro era, por excelência, o "abono de família" para a empresa do Cine Teatro Nisense. A Feira de S. Miguel, a mais importante de Nisa e uma das mais concorridas da região, traziam à vila durante três e quatro dias (às vezes mais) uma autêntica multidão, multifacetada, de gente e de interesses.
As bilheteiras nos dois dias da feira não tinham mãos a medir e geralmente sessão de cinema ou de variedades, nos dias 9 e 10 eram sessões com lotação esgotada, garantida. Tal como nos anos 70 com os filmes do Gianni Morandi (o saudoso José Vilela costumava dizer, meio a sério meio a brincar, que as fitas do cantor italiano garantiam-lhe o sustento do Cine Teatro por alguns meses) esses dias´"mágicos" da Feira de S. Miguel levavam ao Cine Teatro verdadeiras legiões de cinéfilos, por vezes, com assistências records até para filmes portugueses. Se assim fosse por todo o país, o cinema português ( o "novo" e o antigo) tinham subsistência garantida e talvez nem a Tóbis chegasse ao estado de declínio a que chegou...
São enredos de outros filmes. Para o registo do mês de Outubro de 1937 (há 75 anos, onde é que isso já vai...) interessa-nos dizer que os espectáculos de variedades e cinema, nos dias 9 e 10, com Fernando Isidro e J. Martins registaram a afluência de mil cento e sessenta e oito (1.168) espectadores, que deixaram nas bilheteiras a importância de 5.362$50. Um "dinheirão" para a época.
Ainda como curiosidade, registe-se que ao filme português "Bocage" (estreado a 1 de Dezembro de 1936, no S. Luís, em Lisboa) assistiram, em Nisa, 370 espectadores.
Os nisenses gostavam de cinema. Pouco mais havia, como divertimento, é certo. Mas ninguém me convence que as actuais gerações, de um momento para o outro, deixaram de gostar, de amar, a chamada 7ª Arte que os seus antepassados tanto adoraram.
Há, por aqui, um mistério qualquer, a desvendar...
Mário Mendes