8.10.12

OPINIÃO: Marvão e o seu entorno


Estive três dias pelos termos de Marvão, e aqui deixo três notas, sobre esta, mais esta passagem.
1-Estive na aldrabice a que pomposamente chamaram Festival Islâmico.
Uma vigarice de todos os pontos de vista, desde logo porque não tinha um mínimo de autenticidade, só esparsos vestígios de algo remotamente islâmico, umas tendas com vendas de produtos que só me lembraram a genuína e autêntica feira do Relógio, que não se arma ao que não é, e umas raparigas locais a dançarem e ondularem os membros, mais ou menos desnudos, que seriam lapidadas em qualquer pais islâmico e na idade média... nem digo nada.
Pernis de porco e sandes de leitão, cerveja e vinho, numa praça de comes islâmicos que mais parecia um bordel medieval do mais rasca, sem um mínimo de higiene ou limpeza, e nem comento os produtos que arrepiariam qualquer prócere islâmico, para não falar da ora inexistente ASAE.
E, sobretudo, e quero sublinhar sobretudo, nenhum enquadramento, nenhuma cultura, sob que forma fora, nem um colóquio, nem uma publicação, nem nada que tivesse um mínimo, sublinho um mínimo que ver com a alma fundacional deste esplendoroso espaço que é Marvão que assim, haja ou não arame farpado na pradaria (e inacreditável, que depois do auto do SEPNA sobre essas armações a Câmara Municipal continue a dormir em relação a essa ilegalidade e embarque nestas bagunças, sem sentido, inteligência ou vestígio de alma, que só desprestigiam o concelho e afastam a sua classificação patrimonial).
Ibn Marwan foi insultado e humilhado, numa rasquice que não honra nem o seu nome nem a nobre e linda vila de Marvão. Haja Deus ou Inche Allah.
2- Estive também nas ruínas romanas da Ammaia. Como escrevi num livro disponível para os incautos no local isto é o exemplo de delapidação dos dinheiros públicos; soube que estas ruínas são geridas por mais uma (daquelas...) Fundação que aumenta o défice do Estado e que todos a pagamos.
Um espaço miserável, desde o cheiro a mofo das pobres salas onde estão a enganar o turista uns cacos e uma merdocas, há que dizê-lo com todas as letras, sem qualquer explicação, (o bago deve ir todo para pagar a administração e prebendas da tal Fundação...) até ao espaço já escavado, mal, e muito mal estruturado e explicado, e onde até se atravessa uma estrada nacional sem qualquer sinalização!
Nunca vi nada assim!
Este espaço não tem dignidade para o estatuto que lhe é dado e bastariam dois funcionários municipais para o gerir. Acabem com esta Fundação já, e invistam nalguma informação, e também já agora também na formação dos funcionários de serviço a este esboço, esboço primário, de espaço cultural e histórico.
3- Não posso deixar de referir a riqueza, agora ao abandono que é a antiga estação da Beirã/Marvão, agora em risco sério, muito sério pelo que vi "in loco" (a antiga cantina, espaço onde já estive em excelentes jantares e outras ocasiões já está a ser vandalizada por um grupo de 20 ou 30 hare krisnas, ou qualquer outra comunidade de sem maneiras, que me disseram que limparam os pássaros mortos, e também limparam certamente o património da Cantina e que agora "aquilo era deles") de total delapidação.
A minha alma que já divagava depois de não ter encontrado o tal Festival AL MOSSASA (alguém diga em Badajoz que andam a ser enganados! nesta parceria) ainda ficou mais parva.
Os azulejos ainda, ainda, por lá estão!
4- Não posso deixar de dizer que me faz pena, muita pena Marvão estar, como tantos municípios no nosso pais, e nem quero saber qual a cor da bandeira, a ser gerida por um bando de incompetentes e incapazes, sem perfil sequer para controlar a entrada do balneário de Marraquexe,
Marvão uma terra onde a beleza do caos granítico, a maravilha da construção humana no território e da sobrevivência, onde vestígios dos tempos que aqui fizeram tempo é imortal, e onde as lendas e os espíritos se escondem atrás de cada arvore e em cada esquina ( e que dizer da destruição do casco urbano, onde até a casa com uma magnífica janela manuelina está... a cair!!!) estar entregue a gente deste gabarito.
Sei que há quem lute e procure desenvolver a terra, os seus valores, a sua memoria e com isso fazer futuro. Gostei muito do simpático hotel (O Poejo) onde fiquei, do trabalho feito pela TerriuS no moinho da Portagem e das suas iniciativas, fiquei com vontade de dar uns passeios a cavalo, e comemos esplendidamente no restaurante Sever.
E aqui e ali vi gente incomodada com a desgraça que referi, vi gente que luta contra um ambiente económico e sociopolítico agreste, e procura criar alternativa.
Conheço muita gente em Marvão, e julgo que agora depois desta visita sinto-o ainda mais é preciso fazer cidade aqui, é preciso dar uma vassourada nos interesses instalados em nome de uma ideia nova, em nome de uma alma, que hoje está daqui, desaparecida.
António Eloy