12.8.24

DESPORTO: Morreu José Manuel Constantino, o presidente do COP que se bateu contra o neoliberalismo

Figura incontornável do desporto em Portugal, José Manuel Constantino foi um pensador mas também um fazedor. Presidente do Comité Olímpico Português, professor, escritor, figura crítica das desigualdades na sociedade e da progressiva neoliberalização do desporto em Portugal.
Atleta federado, licenciado em Educação Física, professor de ensino básico e universitário, dirigente desportivo, autor de livros e artigos, presidente do Instituto do Desporto, da Confederação de Desporto de Portugal e do Comité Olímpico Português. José Manuel Constantino foi, mais do que um homem do Renascimento, um desportista do Renascimento. Morreu no passado domingo, dia em que se assinalou o encerramento dos Jogos Olímpicos de 2024, onde Portugal teve uma prestação notável.
Nasceu em Santarém, em 1950, terra onde foi atleta federado de futebol, nos Leões de Santarém. Foi dirigente do Sport Algés e Dafundo e mais tarde da Federação Portuguesa de Halterofilismo. Estudou Educação Física e foi reconhecido com os títulos de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto e pela Universidade de Lisboa.
A Confederação de Desporto de Portugal, da qual foi presidente, celebrou o seu legado em comunicado, afirmando-o como “figura maior e ímpar do desporto nacional” que “deixa um legado que deve ser reconhecido, lembrado e seguido por todos”.
Como pensador, escreveu inúmeros livro sobre desporto, abordando algumas das questões mais importantes da sociedade através dessa lente. É o caso de “O Desporto e o Estado – ideologias e práticas”, “Desporto, Género e Sexualidade” ou “Desporto e Diversidade Religiosa – caminhos para a paz”. Escreveu também sobre a transformação da competição desportiva em “e-Sports – o desporto em mudança?”
Como fazedor, José Manuel Constantino foi insubmisso na sua visão política do desporto. Enquanto presidente do Instituto de Desporto, rejeitou a política de atribuição dos delegados distritais que funcionavam de um acordo entre PS, PSD e CDS, procurando uma forma mais justa de trabalhar. Criticou a vontade de privatização do Estádio Nacional e afastou-se do cargo em desacordo com essas políticas. Opôs-se às políticas que implementaram o neoliberalismo no desporto português e mostrou-se desafiante contra as visões da sociedade que impõem a desigualdade.
Mas esse combate não o impediu de ver o lado humano e profundamente fraterno do desporto. Em entrevista à revista Visão, no final de Julho deste ano, relembrava que as maiores vitórias da sua carreira foram “o carinho dos atletas, o apoio da generalidade das federações desportivas e as manifestações de solidariedade”.
Faleceu no dia 11 de agosto de 2024, depois de três dias em internamento, vítima de doença prolongada. O Esquerda lembra-o pelo seu contributo incontornável ao desporto, mas também pela sua visão crítica das estruturas que criam desigualdades sociais, como disse à revista Visão: “O Estado, com exceção dos valores do iluminismo – da igualdade, da liberdade e da fraternidade -, está hoje completamente vendido ao neoliberalismo e à escola de Chicago. O Estado vive do negócio, apoia o negócio e estimula o negócio”.
12 de agosto 2024 - in www.esquerda.net