Figura incontornável do desporto em
Portugal, José Manuel Constantino foi um pensador mas também um fazedor.
Presidente do Comité Olímpico Português, professor, escritor, figura crítica
das desigualdades na sociedade e da progressiva neoliberalização do desporto em
Portugal.
Atleta federado, licenciado em Educação
Física, professor de ensino básico e universitário, dirigente desportivo, autor
de livros e artigos, presidente do Instituto do Desporto, da Confederação de
Desporto de Portugal e do Comité Olímpico Português. José Manuel Constantino
foi, mais do que um homem do Renascimento, um desportista do Renascimento.
Morreu no passado domingo, dia em que se assinalou o encerramento dos Jogos
Olímpicos de 2024, onde Portugal teve uma prestação notável.
Nasceu em Santarém, em 1950, terra onde
foi atleta federado de futebol, nos Leões de Santarém. Foi dirigente do Sport
Algés e Dafundo e mais tarde da Federação Portuguesa de Halterofilismo. Estudou
Educação Física e foi reconhecido com os títulos de Doutor Honoris Causa pela
Universidade do Porto e pela Universidade de Lisboa.
A Confederação de Desporto de Portugal,
da qual foi presidente, celebrou o seu legado em comunicado, afirmando-o como
“figura maior e ímpar do desporto nacional” que “deixa um legado que deve ser
reconhecido, lembrado e seguido por todos”.
Como pensador, escreveu inúmeros livro
sobre desporto, abordando algumas das questões mais importantes da sociedade
através dessa lente. É o caso de “O Desporto e o Estado – ideologias e
práticas”, “Desporto, Género e Sexualidade” ou “Desporto e Diversidade
Religiosa – caminhos para a paz”. Escreveu também sobre a transformação da
competição desportiva em “e-Sports – o desporto em mudança?”
Como fazedor, José Manuel Constantino
foi insubmisso na sua visão política do desporto. Enquanto presidente do
Instituto de Desporto, rejeitou a política de atribuição dos delegados
distritais que funcionavam de um acordo entre PS, PSD e CDS, procurando uma
forma mais justa de trabalhar. Criticou a vontade de privatização do Estádio
Nacional e afastou-se do cargo em desacordo com essas políticas. Opôs-se às
políticas que implementaram o neoliberalismo no desporto português e mostrou-se
desafiante contra as visões da sociedade que impõem a desigualdade.
Mas esse combate não o impediu de ver o
lado humano e profundamente fraterno do desporto. Em entrevista à revista
Visão, no final de Julho deste ano, relembrava que as maiores vitórias da sua
carreira foram “o carinho dos atletas, o apoio da generalidade das federações
desportivas e as manifestações de solidariedade”.
Faleceu no dia 11 de agosto de 2024,
depois de três dias em internamento, vítima de doença prolongada. O Esquerda
lembra-o pelo seu contributo incontornável ao desporto, mas também pela sua
visão crítica das estruturas que criam desigualdades sociais, como disse à
revista Visão: “O Estado, com exceção dos valores do iluminismo – da igualdade,
da liberdade e da fraternidade -, está hoje completamente vendido ao
neoliberalismo e à escola de Chicago. O Estado vive do negócio, apoia o negócio
e estimula o negócio”.
12 de agosto 2024 - in www.esquerda.net