O actual presidente da Câmara de Vila Velha de Ródão, Luís Pereira, o ex-presidente das câmaras de Idanha-a-Nova e Castelo Branco, Joaquim Morão, dois ex-vereadores da Câmara de Castelo Branco, João Carvalhinho e Arnaldo Brás, e ainda um empresário que já cumpriu pena de prisão por burla, António Realinho, acabam de ser acusados pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Coimbra pela prática do crime de fraude na obtenção de subsídio. Igualmente acusadas foram as associações Adraces — agora presidida por Armindo Jacinto, também presidente da Câmara de Idanha-a-Nova — e L'Atitudes, uma organização criada em 2010 por Morão e Realinho, juntamente com oito outros autarcas socialistas do distrito de Castelo Branco, que nunca teve qualquer actividade e surgiu apenas para conseguir um subsídio de 200 mil euros de fundos europeus e um outro de 150 mil euros do município de Castelo Branco, então presidido por Morão.
Os fundos assim obtidos terão sido usados ilegalmente, em benefício da primeira destas associações, a qual já tinha esgotado os subsídios a que se podia candidatar naquela altura.
De acordo com essa nota, os arguidos criaram “condições artificiais de elegibilidade [de uma entidade] como beneficiária [do subsídio], contornando o impedimento de uma outra entidade”. O DIAP acrescenta que “a associação considerada como real beneficiária da conduta era, simultaneamente, entidade gestora do próprio Grupo de Acção Local (GAL) da Beira Interior que analisou e aprovou a candidatura e que recebeu e aprovou os pedidos de pagamento do financiamento, no valor global de 200.000 euros, lesando o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP)”, entidade à qual cabia o pagamento dos subsídios aprovados no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (Proder).
As associações a que alude o DIAP, sem as nomear, são precisamente a L'Atitudes, Organização Não Governamental para o Desenvolvimento — presidida por Joaquim Morão, igualmente presidente da Câmara de Castelo Branco à época —, que conseguiu a aprovação dos 200 mil euros a fundo perdido para obras num edifício de Castelo Branco que era supostamente a sua sede, e a Adraces (igualmente dirigida por Morão nessa altura), que é a entidade gestora do GAL da Beira Interior e que terá sido a entidade beneficiária do subsídio. Foi nessa condição de entidade gestora do GAL da Beira Interior que a Adraces aprovou a candidatura apresentada ao Proder pela L'Atitudes, mas que terá servido apenas para reabilitar um edifício cedido pela Câmara de Castelo Branco à própria Adraces.
Desconhece-se a actividade da associação
A criação da L'Atitudes, em 2010, foi obra de um grupo de autarcas socialistas que incluía alguns dos que nos anos 90, liderados por Morão, criaram a Adraces, juntamente com o empresário e economista António Realinho, que foi vice-presidente e director executivo dessa associação até ser detido em 2018 para cumprir uma pena de quatro anos e meio de prisão por burla e falsificação.
Terá sido Realinho, que era também vice-presidente da L’Atitudes, quem se apercebeu de que a Adraces não preenchia os requisitos necessários para se candidatar ao Proder e congeminou, com Morão, a ideia de criar a L'Atitudes com um estatuto que lhe permitia apresentar a candidatura ao Proder que eles próprios aprovaram na Adraces e que se destinava, na realidade, a financiar esta associação.
Para lá de Realinho e Morão, da Adraces e da L'Atitudes, foram acusados Arnaldo Brás e João Carvalhinho. O primeiro foi vice-presidente da Câmara de Castelo Branco, presidente da assembleia municipal local e presidente da concelhia do PS. Actualmente ocupa o lugar de presidente da Amato Lusitano, uma associação de desenvolvimento local criada e largamente financiada pela câmara albicastrense. O segundo foi vereador da mesma autarquia e membro da direcção da L'Atitudes. Exerce actualmente o cargo de secretário executivo da Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa, presidida pelo autarca de Vila Velha de Ródão, Luís Pereira, igualmente acusado neste processo.
Contactados pelo PÚBLICO, os autarcas e ex-autarcas agora acusados não fizeram qualquer comentário.
https://www.publico.pt/2024/06/03/sociedade/noticia/quatro-autarcas-exautarcas-ps-acusados-fraude-ministerio-publico-2092782