Não há nadadores-salvadores suficientes. A frase é antiga e repete-se todos os verões. Este ano, a solução foi recrutar profissionais do Brasil.
Os anos passam e o país quase se habitua às notícias de mortes em meio aquático - só no ano passado foram 88. Ouvimos lamentos, promessas, propostas, mas, na verdade, governantes e partidos políticos nunca encararam a segurança balnear como uma prioridade.
Não é preciso ser um especialista na matéria. A formação dos nadadores-salvadores em Portugal é quase uma brincadeira, a atividade é pouco mais de que uma forma dos mais novos ganharem algum dinheiro extra, alguns materiais são obsoletos, outros comprados pelos próprios.
O país tem mais turistas, tem mais praias, tem mais tecnologia, tem, fruto das alterações climáticas, uma época balnear mais longa do que o que foi estipulado no papel. Mas não tem menos mortes.
Entretanto, não se pode ouvir música alta na praia, só se pode jogar à bola em áreas afetas a esse fim. E há multas para quem pescar entre o nascer e o pôr do sol, para quem passear o cão ou para quem levar búzios para casa. Temos leis a mais. Bom senso a menos.
Há ano e meio que a nova Lei de Bases da Prevenção do Afogamento está em processo de revisão. Ano e meio! O processo ainda está na fase dos contributos de todas as partes interessadas, o que quer dizer que talvez em meados do próximo ano a legislação esteja em vigor.
Se a atividade de nadador-salvador passar a ser considerada uma carreira profissional, a espera terá valido a pena. Caso contrário, a segurança nas praias continuará dependente de quem faz um curso numa piscina durante um mês.
Manuel Molinos - Jornal de Notícias - 11 agosto, 2023