Muitos alunos universitários que estudavam Medicina na Ucrânia já entraram em faculdades portuguesas. Mas quem não é ucraniano tem mais dificuldades.
Não é discriminação; é critério. E não há condições para todos.
É assim que um responsável justifica a recusa de integração de cerca de 250 alunos de Medicina que fugiram da guerra da Ucrânia, mas que não são ucranianos.
Os refugiados em causa estavam a estudar Medicina na Ucrânia e agora queriam continuar os seus estudos em Portugal. Mas como não são, nem ucranianos, nem portugueses, têm mais dificuldades em entrar numa faculdade portuguesa.
“Não chamo discriminação, é um critério. Se tenho capacidade para um número X de estudantes, tenho que usar critérios”, explicou Fausto J. Pinto, director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no jornal Público.
Nessa faculdade, entre os 20 alunos que já foram aceites na instituição, 11 são ucranianos e nove são portugueses. Há outros 140 pedidos de entrada, mas os estudantes são de outras nacionalidades.
“Era uma carga muita grande receber todos. Até porque têm os seus países, isso poderá ser tratado de outra forma. Tem que haver uma regra que permita que a integração seja funciona. Já estamos a fazer um esforço para acomodar alguns destes estudantes e a regra utilizada foi esta” – a regra foi receber apenas estudantes portugueses e ucranianos.
Uma ideia repetida por Henrique Cyrne Carvalho, presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas: “O nosso entendimento é que devem ser recebidos pelo país de origem. É um contingente muito heterogéneo. Obriga a uma ginástica do modelo formativo”.
O panorama é geral em Portugal: um aluno paquistanês tentou quatro faculdades portuguesas de medicina (Lisboa, Coimbra e Porto) e nenhuma respondeu à sua tentativa.
Outros dois alunos paquistaneses também não receberam qualquer resposta de Lisboa e Coimbra; e já se candidataram em Abril.
E uma das instituições de ensino, a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, admitiu a uma aluna que não está a integrar alunos de outras nacionalidades que fugiram da guerra. Só entram ucranianos – e a maioria dos candidatos nasceu noutros países.
As faculdades aguardam instruções concretas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Mas esse ministério foi claro: “Caberá às instituições de ensino superior, no âmbito da sua autonomia científico-pedagógica, decidir se abrem ou não vagas em Medicina para os estudantes com estatuto de refugiado. Se o fizerem, não poderão discriminar em razão da sua nacionalidade. Se não abrirem vagas, devê-lo-ão justificar”. E será uma “actuação ilegal” caso rejeitem estudantes.
Uma excepção surge no Algarve (onde o número de candidatos é baixo): foram recebidas duas estudantes iranianas de Medicina que estavam na Ucrânia
ZAP //19 JUNHO, 2022