Ao
recordar-me o passado
Dos
tempos que já lá vão
Como
tudo demudou
E
me causa admiração
Quando
eu era criança
Passei
tormentos de dor
Pois
só havia pobreza
Com
maus tratos, que horror.
Comíamos
pão de centeio
Às
vezes tão trigueirinho
Era
dado por medida
E
molhado num caldinho
Deixava-se
na bacia
Um
caldinho de feijão
Com
uma pinga de azeite
Molhava-se
o pão.
Era
para nós alegria
Ver-se
tal "petisquice"
A
carne andava de férias
Para
os pobres era triste
Lá
havia algum fidalgo
Que
comia pão de trigo
Lá
matavam um porquinho
Isso
não era comigo
Eu
sonhava por aviar
Um
recado às vizinhas
Ia
na esperança de me darem
P´ra
comer melhor coisinha
O
comer era tão fraco
Que
tudo nos sabia bem
Era
tempo de miséria
Pobre
não tinha vintém
Andávamos
trabalhando
Desde
que rompia o dia
Cantando
lindas cantigas
Era
p´ra nós uma alegria
Lá
dormíamos toda a semana
A
cama era palha e giesta
Como
isto demudou
Não
há vida como esta
Andávamos
por lá semanas
Às
moitas e a mondar
À
bolota e azeitona
Sempre
havia que remar
Depois
ia-se cavar milho
Sachar
grande milharada
Era
de manhã à noite
A
puxar pela enxada
Tinha
o patrão duas partes
E
a gente tinha só uma
Inda
diziam alguns
-
O tabaco é p´ra quem fuma!
Enchiam
os seus celeiros
Com
o suor dos desgraçados
Trabalhava-se
noite e dia
Por
dez réis de mel coado.
Quando
se andava nas colheitas
Davam
cozinha aos criados
Pois
o trabalho era duro
E
sentiam-se enfadados.
Maria Pinto