6.6.21

Algumas curiosidades sobre o falar de Nisa (I)

Casar contigo? Xô rola
Não mais te quero enganar
És gorda como a cebola
E tens pernas de arrasar (1)

- Linda menina de Nisa
Comigo quer dar passeios?
- Testó! mê pai jé vindê o gade
Num precisa de rafêres! (1)

Xô rola, , testó são expressões bem características dos nizorros. Estão presentes em quase todas as conversas, servindo de interjeição, de negação e, no caso do testó, exprimindo indignação, repulsa.
O representa como que o "emblema linguístico" do nisense. Quando se pretende (os de fora) achincalhá-lo vem logo à baila o , os "cães de Nisa" e outros mimos parecidos.
Penso que cada povo, cada região, cada comunidade deve possuir e preservar o seu património, seja ele cultural, histórico, monumental, etnográfico e, mais importante ainda, deve orgulhar-se dele; não ter medo que o considerem "atrasado", pois ao fim e ao cabo, conhecemos tantos estereótipos que, esses sim, revelam não só atraso, mas subserviência, modismo e dependência cultural.
Um povo que não tenha orgulho, no que é seu, na sua raiz, deixa de ter identidade cultural, social e humana.
Com as comunidades linguísticas sucede outro tanto. Devemos admitir que a língua como realidade dinâmica terá, forçosamente, que evoluir e que essa realidade entronca numa outra mais vasta e de sentido mais abrangente: a nacional.
Mas, o nosso sotaque, a nossa forma própria de estar, ser e comunicar, devemos conservá-la sempre; nunca deixá-la abastardar. O que seria dos bascos se prescindissem das suas raízes? Dos catalães, dos galegos, dos transmontanos? De outros tantos povos e raças?
* Mário Mendes - Nov. 1985

(1) Memorial em verso da Notável Vila de Nisa - Maria de Lourdes Seabra de Mascarenhas Paralta