Casar contigo? Xô rola
Não mais te quero enganar
És gorda como a cebola
E tens pernas de arrasar (1)
- Linda menina de Nisa
Comigo quer dar passeios?
- Testó! mê pai jé vindê o gade
Num precisa de rafêres! (1)
Xô rola, dé, testó são expressões bem características dos nizorros. Estão presentes em quase todas as conversas, servindo de interjeição, de negação e, no caso do testó, exprimindo indignação, repulsa.
O dé representa como que o "emblema linguístico" do nisense. Quando se pretende (os de fora) achincalhá-lo vem logo à baila o dé, os "cães de Nisa" e outros mimos parecidos.
Penso que cada povo, cada região, cada comunidade deve possuir e preservar o seu património, seja ele cultural, histórico, monumental, etnográfico e, mais importante ainda, deve orgulhar-se dele; não ter medo que o considerem "atrasado", pois ao fim e ao cabo, conhecemos tantos estereótipos que, esses sim, revelam não só atraso, mas subserviência, modismo e dependência cultural.
Um povo que não tenha orgulho, no que é seu, na sua raiz, deixa de ter identidade cultural, social e humana.
Com as comunidades linguísticas sucede outro tanto. Devemos admitir que a língua como realidade dinâmica terá, forçosamente, que evoluir e que essa realidade entronca numa outra mais vasta e de sentido mais abrangente: a nacional.
Mas, o nosso sotaque, a nossa forma própria de estar, ser e comunicar, devemos conservá-la sempre; nunca deixá-la abastardar. O que seria dos bascos se prescindissem das suas raízes? Dos catalães, dos galegos, dos transmontanos? De outros tantos povos e raças?
* Mário Mendes - Nov. 1985(1) Memorial em verso da Notável Vila de Nisa - Maria de Lourdes Seabra de Mascarenhas Paralta