14.2.21

OPINIÃO: O Ensino a balões de oxigénio

À distância, as aulas recomeçaram em casa e a regra é desenrascar. A eletricidade é a mais cara da Europa, não há internet para todos, é cara, para muitos não tem qualidade e a tarifa social, está por implementar. Os prometidos computadores ainda estão a ser distribuídos e os professores, mais uma vez pagam as suas ferramentas, quando não podem deduzir no IRS, nem um simples lápis que compram para trabalhar. Muitos foram obrigados a investir para garantir o ensino à distância, enquanto o governo ignorou o estatuto do teletrabalho que impõe a privados.
A comunidade escolar serviu de carne para canhão, valeu tudo para manter as Escolas abertas, sem testar, inclusive pessoas de risco que trabalham nas escolas. Todos fecharam os olhos e fingiram que os jovens não tinham comportamentos de risco. Não há escolas seguras com salas lotadas e sem rastreios generalizados. Este risco que foi infligido, prova a grande importância que tem o ensino presencial, mas que tem sido tão descurado por vários governos. Os argumentos do ministro da Educação, foram no mínimo ridículos ao defender a abertura das escolas neste cenário de guerra, com a teoria de que os alunos podiam desenvolver cancro ao ficarem em casa.
O indesejado fecho temporário das Escolas, só prova que todos falhámos. Falham os transportes e falham as políticas de educação; o PS e a direita chumbaram propostas de redução de número de alunos por turma, que não só melhorava o ensino, como nesta altura resolvia o excesso de alunos em sala de aula em plena pandemia. Falhou o planeamento, fruto da teimosia do governo de Costa. Falhou o investimento prometido para que nenhum aluno ficasse para trás.
Presencial ou à distância, é importante que os alunos tenham acesso à aprendizagem; essa é a sua verdadeira construção. Mas a covid-19 veio desmascarar a falta de equidade no ensino com uma linguagem e comportamentos de elite, fruto de assimetrias inqualificáveis. A pedagogia de diferenciação é artificial e assenta em relatórios demagógicos. Os professores passaram da pedagogia à burocracia e o ensino assenta em estatísticas viciadas.
Os professores nem nos fim-de-semana, conseguem livrar-se da carga burocrática e organizativa a que foram sujeitos. Se o aluno tem más notas, antigamente era uma dor de cabeça para os alunos e pais, agora é para os professores, que têm de justificar essa falta de aproveitamento. É um convite para os professores colocarem as notas em saldo. Mas em saldo não estão as propinas, que continuam a funcionar como as taxas moderadoras na saúde, para discriminar cidadãos no seu acesso constitucional à saúde e ao ensino.
Muitos professores são deslocados para longe das suas famílias e em muitos casos, o que ganham, não chega para as despesas. Pagam bem caro a sua desunião, a falta de unidade de classe com uma percentagem de sindicalizados vergonhosa; enquanto alguns descansam nos seus cadeirões do comodismo e do amiguismo. Por isso, ser professor é cada vez menos atrativo e perspetiva-se um recuo ao tempo em que foi necessário recorrer a alunos com o antigo propedêutico, para darem aulas.
A carreira atravessa situações obscuras, com políticas que colocam professores contra professores. As avaliações dos professores e a progressão na carreira, é um processo nebuloso e injusto, mantido no segredo das manipulações de gabinete. A somar, ainda foram roubados em tempo de serviço (6,5 anos).
As Escolas vivem com limitações, restrições financeiras, técnicos operacionais, mal pagos e edifícios com necessidades urgentes. E o Estado responde com a municipalização do ensino, ou seja, desresponsabilização do Estado. Vai transferir competências para as autarquias e comunidades intermunicipais. Explicando melhor, PS e PSD (unidos) atiram para essas entidades, a responsabilidade do que, vários governos não quiseram fazer. Acreditarmos que a municipalização vai resolver os problemas graves que temos, é como acreditar no Pai Natal. Um dia, se o povo abrir os olhos, vai perceber que PS e PSD (unidos) destruíram a qualidade da escola pública.
A sensatez exige um regresso gradual à escola e com um sistema misto, presencial e à distância. A situação é muito complicada e uma resposta fraca origina uma derrota forte. O governo de Costa é um governo super teimoso; insistiu até à última no ensino presencial, esquecendo que era preciso um plano “B” e à força, teve de se vergar à realidade e deixou o ensino a balões de oxigénio…
Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 12/02/2021