2.2.21

COISAS DA CORTE DAS AREIAS (21): Orgulho e Preconceito versus Sensibilidade e Bom Senso

 

Dois títulos, duas obras literárias de grande valor, de uma mesma autora; Jane Austen, romancista de primeira água.
Tarefa difícil, é retratar seja quem for e encaixá-lo em um qualquer dos dois títulos. Mais difícil ainda é o destinatário, havendo-o, aceitá-lo, se o dito brigar com o conceito que faz de si próprio, não poucas vezes alicerçado na vaidade, num preconceito assumido antes de tempo e nada fundamentado.
E se esta conversa se aplica ao primeiro dos títulos (“Orgulho e Preconceito”), já sobre o segundo (“Sensibilidade e Bom Senso”), o saldo é deveras negativo para o concelho, por não ouvirem para bem julgarem, ao não praticarem o raciocínio prudente, ao não aprenderem a gostar do que é lindo, do que é nosso.
Voltaremos tantas vezes quantas as necessárias, abordando as intervenções (requalificações) que a mais das vezes mais não são que crimes de lesa-património.
É este um tipo de intervencionismo que deixará por certo, felizes da vida, os soberanos e respectivos séquitos instalados no trono, mas deixa a nós, munícipes do concelho, mais tristes e arruinados.
Por vezes, ocorre-nos fazer perguntas, mas logo esquecemos. Porquê fazê-las se por tradição, não são respondidas?
A que propósito esta ou aquela operação? Está agora mais bonito, mais prático?
É assim tanta a riqueza que nos permitamos gastar desta maneira, destruindo o que vem de trás para lhe dar nova “cara”? Vão os nossos “bilhetes-postais” turísticos continuar, quais jogos do lego para criancinhas, a ser oferecidos como “cobaias” para aquilatar da competência e originalidade de uns quantos “artistas”?
Será que neste concelho alguém vai parar para ouvir? Para aprender?
Serão as freguesias do concelho coutadas onde alguns se arrogam o direito de nelas “caçar” sem conhecimento das espécies indígenas, protegidas, senão pela lei, ao menos pela moral, pela tradição e pela memória. A continuarem, assim, “estamos aviados”...
Entretanto, o Alto de Santa Luzia continua como depósito de entulhos, apesar da proposta de embelezamento para o sítio, ter sido aprovada, por unanimidade, pelo executivo da Freguesia de Nossa Senhora da Graça, há mais de cinco anos.
Por que não vai em frente esta “Requalificação”, com custos insignificantes?
Nós, sabemo-lo...
A “Árvore das Mentiras” ou o fóssil que dela resta lá continua de pé, numa clara provocação, num insulto permanente aos cidadãos com sensibilidade, com bom senso. De pé devia estar, isso sim e já há anos, o Menir do Patalou e já agora também o da Fonte do Cão, idem para os do Vale das Leves, da Tapada da Meia Légua e dos Saragonheiros, todos eles caídos a não mais de meia dúzia de quilómetros em redor de Nisa.
Estivessem estes megalíticos aqui ao lado, em Castelo de Vide ou Marvão e outro galo cantaria.
É o sentimento afectivo que induz estas acções e eles têm, julgamos, menos a ver com o primeiro dos títulos desta crónica e mais com o segundo: Sensibilidade e Bom Senso. 
João Francisco Lopes in “O Distrito de Portalegre” - 22/4/2010