Os médicos que denunciaram a falta de condições no lar de Reguengos de Monsaraz foram ameaçados com processos disciplinares pelo Diretor Regional de Saúde do Alentejo, José Robalo, avança o Expresso esta terça-feira.
A situação, avaça o semanário esta terça-feira, é denunciada no relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos ao surto de covid-19 no lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, em Reguengos de Monsaraz.
Os profissionais de saúde sido intimidados depois de denunciarem a falta de condições para a prestação de serviços no lar, onde um surto de covid-19 causou dezenas de infetados e terá sido também a causa da morte de 18 pessoas.
“Na reunião os médicos são informados pelo Dr. Robalo de que devem manter a prestação de cuidados no lar porque, caso contrário, incorreriam em processo disciplinar”, pode ler-se no documento, que detalha que o encontro em causa ocorreu uma semana depois de o primeiro caso ter sido detetado e contou com a presença de representantes da Autoridade de Saúde Pública e da Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Central.
Ao Expresso, José Robalo admite que mencionou os processos disciplinares, mas apenas quanto à recusa em prestar o serviço e não quanto à falta de condições: “Sim, levantei a possibilidade de um processo disciplinar” nesse encontro.
“Se se recusam a tratar um doente do Serviço Nacional de Saúde, neste contexto, pode ser levantado um processo disciplinar. Não pode haver recusa”.
“Eu não sei se havia ou não condições” para prestar os cuidados, continua.
De acordo com o mesmo relatório, por esta altura uma pessoa já tinha morrido e 70 utentes tinham contraído a doença. No dia seguinte, a 25 de junho, a Autoridade de Saúde Pública e da Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central, reconheceu a “falta de condições de segurança” no lar. A 27 de junho, José Robalo terá sido avisado mais uma vez da “verificação das más condições existentes”.
Ao todo, 80 utentes de um universo de 84 e 26 trabalhadores do lar ficaram infetados com o novo coronavírus. Dezasseis idosos acabaram por morrer, bem como uma funcionária e um homem da comunidade, motoristas da Câmara Municipal.
ZAP -18 Agosto, 2020