Podemos estar orgulhosos dos filhos que temos? Podemos, claro. É que são eles - aqueles que tantas vezes acusamos de estarem sempre agarrados aos smartphones e videojogos, que culpamos de serem incapazes de se relacionar sem ser virtualmente - que saem hoje à rua, em Portugal e no resto do Mundo, em defesa do planeta. Esta greve pelo clima, inspirada pela ativista sueca Greta Thunberg, de apenas 16 anos, é mais do que uma onda de mobilização liderada por jovens que vão faltar às aulas para reivindicar um futuro melhor.
O protesto estudantil não nos cobra honorários. E tinha legitimidade para o fazer, quer por termos escolhido mal quem nos representa quer por não termos feito nada, como seguramente irá acontecer, de novo, no domingo, quando formos chamados às urnas. Quantos de nós irão trocar a praia pela urna de voto? Quantos dos que vão escolher a apatia irão, depois, criticar quem se senta em Bruxelas? Não, não criamos uma geração de alienados. Pelo contrário. Afinal, quem incriminamos por ter perdido os valores, por viver nas redes sociais, levanta-se mais depressa do sofá do que as gerações anteriores, que continuam prostradas na habilidade de serem treinadores de bancada.
Os miúdos que fazem greve pelo clima são os mesmos que daqui a alguns anos estarão em cargos políticos. Serão decisores mais conscientes e mais preocupados com este planeta que temos como dado adquirido.
Não chega dizermos que Donald Trump não percebe o que são as alterações climáticas. Não basta bater palmas a Obama e a Al Gore e depois assobiar para o lado.
É preciso que também façamos mea culpa. Em vez de apontar o dedo, devemos juntar-nos a estes jovens. Dar-lhes a mão, para que percebam que estamos ao lado deles. Não à frente e nem atrás: ao lado nesta luta por todos nós.
Manuel Molinos in "Jornal de Notícias" - 24/5/2019