"JOSÉ GOMES
CORREIA nasceu em Nisa, no dia 22 de Junho de 1922, e, com ele, Nisa começou a
ser, também, uma terra de poetas. De um, pelo menos. Dele. Licenciou-se em
Direito e foi funcionário público, durante toda a vida: anos e anos na terra
natal, que não queria deixar. A sua obra poética está toda ela contida nos dois
livros, que publicou: "Sonhos que morrem, sombras que ficam" (1942) e
"Seara do bem e do mal" (1963). Pouco. Muito pouco. Infelizmente,
para nós. Pouco, não só porque entre a publicação dos dois livros, aconteceu um
longo intervalo de vinte anos mas também porque, quando devia ter chegado a
hora, o Tempo lhe não deu tempo para mais. Digo isto porque, quando o poeta
faleceu, na sua terra natal, em 2 de Julho de 1983, estava cumprido outro ciclo
de vinte anos: era chegado o tempo do terceiro livro, que não chegou a vir, e o
poeta contava, então, apenas, sessenta e um anos de idade. Novo. Bastante.
Talvez por isso, a sua morte foi, digamos, uma morte sem despedidas: brutal,
como sempre é a morte, e escalafriante, porque se não fez anunciar. Foi como
que aquela fuga para a frente que ele, aliás, de há muito tinha anunciado.
"Por isso fujo e fugirei liberto / e é na solidão que me pertenço / que
faço do meu peito um campo aberto/ onde posso
gritar tudo o que penso".
Carlos Tomás
Cebola - in "Folha de Montemor" - Abril de 1996