Antas nos concelhos do Crato, Niza e Castelo de
Vide
Para corresponder ao convite feito no nº3 d´esta
revista, relativamente a umas antas que se dizia existirem perto de Flor-da-Rosa, entre Crato e Aldeia-da-Matta, tratei de apurar o que havia de verdade a
tal respeito, obtendo os esclarecimentos que passo a referir.
Eram três essas antas, mas presentemente só existe
uma.
A primeira estava num sítio denominado
Entre-as-Aguas, a noroeste de Flor-da-Rosa, de que distava um kilometro. Só
restam d´ella duas pedras dentro de um espesso silvado, onde é difficil
penetrar.
A segunda ficava a sessenta metros, ao norte da
estrada de Aldeia-da-Matta para Flor da Rosa, distante d´esta ultima povoação
dois quilómetros. Estava situada na courela ou terra do Torrico, dentro do
couto de Valle-de-Figueira. Os únicos vestígios d´ella são muitas pedras miúdas
ou fragmentos d granito.
A terceira é a única que tem ficado incólume até
hoje. Distará apenas um kilometro de Aldeia-da-Matta e uns quinhentos metros
para sul, do caminho já referido, e está situada no couto dos Pucarinhos,
pertencente ao sr. João Manuel Gouveia. É enorme, e considerada a maior das
antas que há por esta parte do Alentejo Norte.
O seu perímetro, internamente, mede 14,31m, junto
da base, havendo entre esta e o pavimento exterior uma grande differença de nível,
o que alguns attribuem, não a quaesquer explorações scientificas para o estudo
da archeologia prehistorica, mas sim ao preconceito, mantido pela tradição
popular, de existir alli uma mina ou thesouro escondido, que a todo o custo
convinha desentranhar da terra.
O fosso, porem, aberto para o lado de Flor-da-Rosa,
e protegido por quatro grandes pedras, estabelece com plausibilidade a presumpção
de que pouco ou mais ou menos sempre assim se tem conservado, por isso que
parece destinado a evitar um desabamento.
Das sete pedras verticaes de que consta a anta, a
maior, vista do lado de Aldeia-da-Matta exteriormente apenas mede 1,70m, ao
passo que da parte de dentro mede 3,20m, sendo, portanto, de 1,50m aquella
differença de nível, ou mais ainda, porque a base do poço não é plana, mas
concava.
A pedra horizontal mede de comprimento 4,50m e na
sua maior largra 3,42m, e assenta só em três das pedras verticaes.
Pela incompleta descripção que fica feita,
infere-se que a Anta da Aldeia-da-Matta não é certamente das que menos
interesse deve despertar aos archeólogos do nosso país.
Alem de outras antas no concelho do Crato,
consta-me que há uma no couto do Madraço, a sudoeste da villa do Crato, duas em
Valle-do-Freixo, a sueste, um pouco a denate da estação do Crato, e outra na
tapada do Currial, a leste.
Um exemplar, em magnifico estado de conservação, é
também a Anta de S. Gens, na folha da Ceiceira, freguesia de Nossa Senhora da
Graça de Nisa, distando d´esta ultima villa uns oito kilometros e da de Gafete
quatro a cinco kilometros. Fica próximo da capella de S. Gens, a pequena
distancia, para poente, do caminho de Nisa para Gafete, e a norte da ribeira do
Sor.
Nas immediações do lazareto de Castelo-de-Vide há uma
outra anta, muito mais pequena do que a de S. Gens.
Não me consta que esta ultima tenha sido explorada,
comquanto haverá vinte annos, estando aqui o sr. José Victorino Damásio Ribeiro,
filho do fallecido Carlos Ribeiro, fosse visitada por um archeologo amigo d´aquelle
cavalheiro.
Nisa, Julho de 1895
Júlio Basso
NOTA: Júlio da Graça Marques Basso (1858-1925) foi um notário de reconhecido mérito, que exerceu a actividade durante trinta anos, na sua terra natal (Nisa) e do qual, em próximo texto, havemos de traçar, aqui, o perfil biográfico. A Câmara Municipal homenageou-o com a atribuição do seu nome à antiga Rua do Espírito Santo.
O artigo que damos a conhecer foi publicado na revista "O Archeologo Português" dirigida por Leite de Vasconcelos e nele são detectáveis algumas incorrecções, justificadas pelas dificuldades de comunicação e de transporte, existentes no século XIX e que impediam um conhecimento "in sito" dos monumentos referidos.