Da alegria de um dia de
Primavera ou de euforia de um dia de Verão, à tristeza de um dia de Inverno,
vai uma distância mais curta do que da minha casa ao talefe.
Também as pessoas se
ressentem dos humores da mãe natureza: um dia bonito e o semblante da
generalidade dos cidadãos parece ser agradável; um dia feio e a máscara que
cada um veste matinalmente torna-se carrancuda, fechada.
É assim com quase todas
as pessoas que se cruzam no meu caminho para o talefe.
Mas na televisão, à
noitinha, que diferença! Seja alegre ou triste a notícia, sorrisos alarves
enfeitam as casas dos diferentes apresentadores.
E quando os políticos
surgem, no bairro de lata, no acidente, à porta das fábricas, o sorriso falso,
postiço, está sempre presente quando a câmara lhes assenta em cheio.
É quase inconsciente o
esgar de alvos dentes, que um certo jornalista celebrizou, num anúncio de pasta
dentrífica.
Como inconsciente é, o
sorriso em que, nos falam do tempo que vai fazer, da inflacção, do golpe de
estado, da fome e da miséria africana, do atentado, da febre bolsista ou das
propinas.
Que prazer, ver a
Natureza mudar de aspecto.
Que prazer, ver as
pessoas da minha terra, hoje satisfeitas, amanhã aborrecidas, depois de amanhã
deprimidas e no dia seguinte eufóricas. Que prazer conviver com pessoas.
Pessoas verdadeiras e não fingidoras. Pessoas com alegria de viver. Nisorros.
Zé de Nisa in “Notícias
de Nisa nº4 – 28/5/1997