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28.6.18

Os poetas nisenses e os santos populares (2)



QUADRAS A S. JOÃO
Na noite de S. João
Fiz uma grande fogueira
Pedi-lhe que queria um noivo
Para não ficar solteira.

S. João, fiz-lhe a fogueira
De alfazema e rosmaninho
Custou-me muito a arrancar
Mas trouxe um belo feixinho.

À noite junto à fogueira
Cantando ao S. João
Dançava, batia o pé
Todo o mundo em união.

Era grande a lumarada
A rua cheia de fumo
E S. João radiante
A cheirar este perfume.

S. João era velhaco
Mas tinha bom coração
Divertia o povo todo
Com grande animação.

Quando em volta da fogueira
Todos com grande alegria
S. João casamenteiro
Benvindo seja este dia.

S. João com suas gaitas
Outros tocando harmónio
Dançando o tralilolé
E a marcha de Santo António.

S. João pediu às moças
Para irem dar um passeio
Iam todas de mãos dadas
S. João ia no meio.

Fiz de cravos a capela
Para dar a S. João
Ele aceitou e disse-me
Deus lhe dará a bênção.

Ó meu rico S. João
Companheiro de Santa Cruz
Aliviai-me da dor
Santo nome de Jesus.
Maria da Graça Pinto (Nisa)
Nota: Quadras apresentadas ao Concurso organizado pela Casa do Povo de Nisa em 1990  

Os poetas nisenses e os santos populares (1)





MARCHA POPULAR 
A nossa marcha é bonita
Todo o povo gosta dela
Quando pela rua passa
Vaidosa, cheia de graça
Todos vêm à janela.
CORO
Lá vem a marchar a passar
Tão bonita e tão contente
Quando a nossa marcha passa
A cantar e a dançar
Ela encanta toda a gente.
II
Passa a marcha e quando passa
Muito alegre e tão bonita.
Com o seu arco na mão
Tendo no meio um balão
Todo enfeitado de fitas.
CORO
Lá vem a marchar a passar
Tão bonita e tão contente
Quando a nossa marcha passa
A cantar e a dançar
Ela encanta toda a gente.
III
Há balões pelas janelas
Andam foguetes no ar
Eu saio prá minha rua
E ando de esquina em esquina
P´ra ver a marcha passar.
CORO
Lá vem a marchar a passar
Tão bonita e tão contente
Quando a nossa marcha passa
A cantar e a dançar
Ela encanta toda a gente.
IV
Moças com saias vermelhas
E com os lenços bordados
Com a sua chinelinha
As meias todas branquinhas
A dançar com os namorados.
CORO
Lá vem a marchar a passar
Tão bonita e tão contente
Quando a nossa marcha passa
A cantar e a dançar
Ela encanta toda a gente.
V
Segue a marcha pela rua
E tudo contente vai
Quando a nossa marcha passa
E já vai chegando à praça
Começa o arraial
CORO
Lá vem a marchar a passar
Tão bonita e tão contente
Quando a nossa marcha passa
A cantar e a dançar
Ela encanta toda a gente.
VI
Lá vem a marcha a passar
De arquinho e balão
Juntam-se as raparigas
A cantar lindas cantigas
Na noite de S. João.
Maria Sampaio Freire Temudo

5.6.16

POETAS NISENSES: José Gomes Correia

 "JOSÉ GOMES CORREIA nasceu em Nisa, no dia 22 de Junho de 1922, e, com ele, Nisa começou a ser, também, uma terra de poetas. De um, pelo menos. Dele. Licenciou-se em Direito e foi funcionário público, durante toda a vida: anos e anos na terra natal, que não queria deixar. A sua obra poética está toda ela contida nos dois livros, que publicou: "Sonhos que morrem, sombras que ficam" (1942) e "Seara do bem e do mal" (1963). Pouco. Muito pouco. Infelizmente, para nós. Pouco, não só porque entre a publicação dos dois livros, aconteceu um longo intervalo de vinte anos mas também porque, quando devia ter chegado a hora, o Tempo lhe não deu tempo para mais. Digo isto porque, quando o poeta faleceu, na sua terra natal, em 2 de Julho de 1983, estava cumprido outro ciclo de vinte anos: era chegado o tempo do terceiro livro, que não chegou a vir, e o poeta contava, então, apenas, sessenta e um anos de idade. Novo. Bastante. Talvez por isso, a sua morte foi, digamos, uma morte sem despedidas: brutal, como sempre é a morte, e escalafriante, porque se não fez anunciar. Foi como que aquela fuga para a frente que ele, aliás, de há muito tinha anunciado. "Por isso fujo e fugirei liberto / e é na solidão que me pertenço / que faço do meu peito um campo aberto/ onde posso gritar tudo o que penso".
Carlos Tomás Cebola - in "Folha de Montemor" - Abril de 1996


31.1.16

POETAS NISENSES: Manuel Carita Pestana

As Cinco Fontes
Ó Nisa, que me estou lembrando
Das tuas ruas e montes.
Versos que estou a escrever
Dedico-os  às tuas fontes.

Fonte do Frade (local original)
As cinco que aí existem
Por essas calmas estradas
São velhas, mas bem prezadas
Pois alguém olha por elas.
Que as reparam das mazelas
Que os tempos lhes vão dando
Das tuas águas puríssimas
Ó Nisa eu me estou lembrando.
Fonte da Aluada
Quem as quiser visitar
Verá lindas raparigas
Que nestas fontes antigas
Lá se vão dessedentar.
A água deve provar
Destas tão saudosas fontes.
Ó Nisa, não mais me esqueço
Das tuas ruas e fontes.
Fonte da Pipa
Todas elas são antigas
Evocam tempos passados
Encontros de namorados
Que lá passam belos serões.
Cai a água aos borbotões
Para quem quiser beber.
Ai, como levam saudades
Versos que estou a escrever!
Fonte d´El Rei (Fonte Nova)
Bons tempos que já não voltam
Quando eu ia namorar
Levavam serões a bailar
Rapazes e raparigas
Ao som de lindas cantigas
Que ecoavam pelos montes.
Nisa, os versos que escrevo
Dedico-os às tuas fontes.

Fonte de Santo António (Fonte da Cruz)
Na Fonte do Frade eu estive,
Até alta madrugada
E na Fonte da Aluada
Na antiga Fonte da Pipa
Que em beleza se antecipa
E a todos nós seduz
Sem esquecer a Fonte Nova
E a velha Fonte da Cruz
Manuel Carita Pestana - in "Correio de Nisa" (1965)

25.8.15

POETAS NISENSES : Carlos Franco Figueiredo

Ode ao Perdigueiro
Tens a inércia das fragas no porte
E bruxedos do vento
Nas narinas frias
Meu nobre companheiro das manhãs esguias
Onde a vida pulsa em saltos de morte

Do ventre dos tojos, em silvos de agonias
Voam as rufas doiras ao sabor da sorte
E tu, meu herói
Estás pronto para o corte
Que o chumbo fenderá nas altaneiras guias

Há odores de pólvora na manhã silvestre
E o Sol vem nos beijar e às frescas ramarias
O mundo cabe ali
O universo
Os dias

E tu, altivo herói
Alheio a fantasias
E em arte a transformar os dons da Natureza
Vais-me oferecendo ao cerne dos sentidos
Os milionários tons
Da mágica beleza.
Carlos Franco Figueiredo - 1995

15.4.13

Poetas Nisenses: Maria Sampaio Freire Temudo

EU GOSTO DA PRIMAVERA
Quando chega a Primavera
Regressam as andorinhas
Gosto de vê-las voar
As bonitas avezinhas.

Foi também na Primavera
Que eu casei com o meu amor
O campo todo verdinho
Todo cercado de flores.

As bonitas andorinhas
Quando chega a Primavera
Se está para chover
Elas voam junto á terra

Eu gosto da Primavera
O campo está a florir
Foi também na Primavera
Que o meu amor conheci

O meu amor conheci
Quando fomos passear
Só para ver as andorinhas
Tão lindas, a voar.

Primavera, deita muitas flores
Todas são bonitas, mas não iguais
Primavera vai e volta sempre
Vai-se a mocidade para nunca mais.

Ao longe cortando o espaço
Vai um bando de andorinhas
Que levam te um grande abraço
E muitas saudades minhas.

18.12.11

O NATAL visto pelos poetas nisenses (1)

Natal de Hoje
Da velha enegrecida chaminé de ontem
não chovem prendas.
De lá também Jesus, seu pai ou sua mãe
não espargem prendas,
pois nunca se soube, de entre a tríade,
qual foi o que algum dia
tenha derramado prendas.

Prendas? Hoje, Ontem e sempre?
A donde?
São prendas a miséria, a sede, a fome, a morte
que grassam por toda a parte
ou pelas três quartas partes do mundo?
Dadas, espargidas, derramadas?

As prendas só podem ser dadas
- dadas com o doce calor da verdade,
da pura entrega e do sentir profundo.
Dadas? Por aqueles que hora a hora
só tecem cruzes no peito,
bajulando a todo o instante
os ricos mais que os pobres;
a tríade que parece não saber pesar, medir, palpar,
a imensíssima diferença que existe
entre tudo aquilo que é excesso
e tudo o resto – três quartas partes do mundo –
que é defeito e que persiste?
António Bento (7/12/2002)