Carlos do Carmo, o conhecido intérprete de “Os putos”,
voltou a Nisa, no passado dia 9 de Janeiro, para um espectáculo na renovada
sala do Cine-Teatro.
Numa casa bem composta, sem que a assistência tenha esgotado
a lotação, havia natural expectativa para escutar, neste regresso a Nisa, um
dos maiores expoentes da canção nacional.
Já sem o vigor de há 25 anos atrás, quando protagonizou um
momento único e inesquecível nas extintas “Festas do Povo”, a voz, os gestos,
as interpretações de Carlos do Carmo afirmam-se pela sobriedade e segurança que
lhe dão a experiência de muitos e muitos anos pisando os mais conhecidos e
exigentes palcos europeus e mundiais.
Acompanhado por executantes de eleição – um guitarrista e
duas violas – pela voz do fadista foram desfilando os fados e as canções com a
sua marca genuína e expressiva, de um repertório que tem corrido mundo,
aplaudido em Hamburgo ou Paris, em Toronto ou Nova Yorque, e projectado,
musicalmente, o nome do país.
Depois do memorável êxito de Cesária Évora, a actuação de
Carlos do Carmo vem na mesma linha de revelação ( se o termo se justifica) de
intérpretes desse grande território que é a lusofonia, pleno de valores e de música
de qualidade, que tantas vezes trocamos por modas e importações de carácter
mais do que duvidoso.
Esta música tem o seu público. Quem a sinta e compreenda. E,
por isso, a opção camarária parece uma aposta ganha, que poderá alcançar ainda
outra projecção, com outros artistas ou grupos, trazendo a Nisa mais
espectadores e uma mais valia para outros sectores, nomeadamente, a restauração,
para além de constituir, se as oportunidades forem devidamente aproveitadas,
uma não menos importante fonte de divulgação desta terra e das suas gentes.
in "Jornal de Nisa" - nº 1 - 21/1/1998