Eusébio da Silva Ferreira, o "Pantera Negra", figura maior do futebol em Portugal e um dos grandes jogadores mundiais, despediu-se de todos nós, portugueses, moçambicanos, amantes do futebol e do desporto, em geral.
Faltam as palavras para lembrar todas as emoções, alegrias - e também algumas tristezas - entusiasmo e euforia, que despertou em todos aqueles que tiveram o supremo gosto de o ver jogar, nos estádios ou pela televisão. Em 1966, tinha 15 anos, as imagens do Mundial de Inglaterra ficaram, para sempre, gravadas na minha memória. Ninguém esquece a autêntica epopeia futebolística que foi a espectacular recuperação e reviravolta no marcador depois da selecção nacional estar a perder por 0-3 frente à "desconhecida" Coreia do Norte. Ninguém esquece o contributo, memorável de Eusébio, com quatro golos, nem a demonstração de garra, querer, unidade e persistência dada pela selecção das quinas, injustamente afastada da disputa da final e do título mundial, conquistado pela selecção da "casa", a Inglaterra.
A imagem de tristeza e desolação de Eusébio, no final do jogo, correu mundo.Mais do que a desolação e o desânimo do jogador, a imagem a preto e branco, revelava a indignação e a revolta de quem sentia ter sido alvo de flagrante injustiça e de um roubo, cometido em plena luz do dia, em terras da toda poderosa Sua Majestade.
Vi jogar Eusébio, por várias vezes, não esquecendo um célebre jogo com o campeão da Holanda, o Feijnoord para a Taça dos Campeões Europeus, num ano em que as vitórias do Benfica eram "chapa 5".
O Feijnoord não resistiu ao poderio do glorioso e Eusébio destacou-se ao marcar, para mim, o melhor golo que até hoje vi marcar.
A última vez que o vi jogar foi em Tomar para a 1ª divisão. Era o último jogo da época e o S.L e Benfica não podia perder para conquistar o título. Estádio cheio, numa bela tarde de futebol, na cidade nabantina. Eusébio, Simões, Humberto Coelho - a dar os primeiros "chutos" na equipa principal e, já, uma grande certeza do futebol nacional - e outros atletas, sustiveram os primeiros ataques do União de Tomar, onde alinhavam Arsénio, o guarda-redes, Caló, Barnabé, Cláudio e Tótoi, equilibraram o jogo e partiram para uma exibição plena de segurança e afirmação, coroada com quatro golos sem resposta. Dessa viagem a Tomar, ficou-me um postal ilustrado, que entretanto perdi, autografado por todos os jogadores do Benfica, entre eles Eusébio, Humberto Coelho, Zeca, José Henrique, Coluna e outros de que não recordo o nome.
O Benfica conquistou mais um título de campeão nacional e a alegria e entusiasmo que se viveram nessa tarde, em Tomar, ficou-me como uma das mais gratas recordações da minha juventude.
Eusébio partiu do nosso convívio e com ele vai parte da alma e da chama de um país que muito fica a dever-lhe: Portugal. Através dele, aprendi a conhecer e a olhar, melhor, a sua terra natal, Moçambique e os moçambicanos. Ouço, agora, enquanto escrevo, esse verdadeiro hino da música africana Ava Sati Va Lomu, na voz da Mingas e surgem-me na memória a lembrança de outros grandes moçambicanos como Machel e Mondlane.
Lá, no etéreo país a que subiste, irás encontrá-los, tenho a certeza e com eles falar a linguagem universal da paz e da cooperação entre os povos.
Essa fala que tu tão bem soubeste utilizar, na tua imensa humildade de desportista e cidadão do mundo.
Obrigado, Eusébio!
Mário Mendes* Cartoon de Herminio Felizardo in http://felizardocartoon.blogspot.pt