Se nós não lha contarmos...
(Texto baseado num manual da disciplina de estudo do meio, do
4º ano de escolaridade.)
Foi no consulado do doutor Cavaco Silva, que da União Europeia, chegaram grandes quantidades de €uros. Os quais ele prontamente
distribuiu pelas elites: banqueiros, financeiros, especuladores da bolsa,
empreiteiros, empresários, comerciantes, agricultores alguns deles jovens
apenas com 69 anos de idade...
Estas pessoas, rodearam-se de luxo e conforto: adquiriram
casas na praia e no campo, rodeadas de sumptuosos jardins e piscinas,
adquiriram jipes e carros de alta cilindrada, a vida passa a correr e eles
tinham pressa. Banquetearam-se com generosas refeições no Gambrinus e Tavares Rico. Enxarcaram-se do bom uísque escocês e do melhor champanhe francês, no
"Elefante Branco", antes de se regalarem com uma boa garota do leste
ou um jeitoso travesti brasileiro. Embarcaram até exóticos destinos de férias,
pois a boémia portuguesa causava-lhes muito stresse.
Construíram-se autoestradas até ao Japão, pontes várias, o Centro Cultural de Belém, a Expo, estádios de futebol para um campeonato de
cinquenta equipas... e até a barragem do Alqueva, vá lá, sejamos comedidos,
meia barragem. Floresceram campos de golfe e neles, cresceram jogadores como
cogumelos. Fizeram-se e desfizeram-se bancos e como num estranho número de
magia: desapareceram os €uros.
Enquanto isso, o povo, passava dificuldades. Trabalhava
muito e ganhava pouco. Ficava sem emprego e era obrigado a emigrar para as
grandes cidades ou para o estrangeiro. Algumas mulheres, viram-se obrigadas a
exercer o profissionalismo sexual para se sustentarem e suas famílias. Abandonaram-se
os campos, as pescas e as antigas fábricas. O país não produzia mais nada.
Chegou então uma catástrofe, não natural, chamada crise, as
elites safaram-se e o povo fodeu-se.
Jaime Crespo