12.1.14

CRÓNICAS DO REGABOFE (15): A história que nossos netos não vão conhecer...

Se nós não lha contarmos...
(Texto baseado num manual da disciplina de estudo do meio, do 4º ano de escolaridade.)
Foi no consulado do doutor Cavaco Silva, que da União Europeia, chegaram grandes quantidades de €uros. Os quais ele prontamente distribuiu pelas elites: banqueiros, financeiros, especuladores da bolsa, empreiteiros, empresários, comerciantes, agricultores alguns deles jovens apenas com 69 anos de idade...
Estas pessoas, rodearam-se de luxo e conforto: adquiriram casas na praia e no campo, rodeadas de sumptuosos jardins e piscinas, adquiriram jipes e carros de alta cilindrada, a vida passa a correr e eles tinham pressa. Banquetearam-se com generosas refeições no Gambrinus e Tavares Rico. Enxarcaram-se do bom uísque escocês e do melhor champanhe francês, no "Elefante Branco", antes de se regalarem com uma boa garota do leste ou um jeitoso travesti brasileiro. Embarcaram até exóticos destinos de férias, pois a boémia portuguesa causava-lhes muito stresse.
Construíram-se autoestradas até ao Japão, pontes várias, o Centro Cultural de Belém, a Expo, estádios de futebol para um campeonato de cinquenta equipas... e até a barragem do Alqueva, vá lá, sejamos comedidos, meia barragem. Floresceram campos de golfe e neles, cresceram jogadores como cogumelos. Fizeram-se e desfizeram-se bancos e como num estranho número de magia: desapareceram os €uros.
Enquanto isso, o povo, passava dificuldades. Trabalhava muito e ganhava pouco. Ficava sem emprego e era obrigado a emigrar para as grandes cidades ou para o estrangeiro. Algumas mulheres, viram-se obrigadas a exercer o profissionalismo sexual para se sustentarem e suas famílias. Abandonaram-se os campos, as pescas e as antigas fábricas. O país não produzia mais nada.
Chegou então uma catástrofe, não natural, chamada crise, as elites safaram-se e o povo fodeu-se.
Jaime Crespo