Portugal, país sério e circunspeto.
Povo de circunstâncias.
Inapelavelmente exigente com os outros e os fracos, mas
absurdamente libertino para com os fortes e consigo próprio.
Desprovido de qualquer sentido de humor, sisudo, macambúzio,
ensimesmado, triste... Mas com jeitaço para a piadola mais vil, soez e fácil.
Vai muito à bola, menos à missa, usa crucifixo na pescoceira
e adora ir fazer piqueniques a Fátima, até gosta de ir a pé... bebe o seu
copito, fuma cada vez menos, pela surrelfa dá umas facadas no matrimónio,
completamente servil perante a autoridade.
Uns assobiam, outros cantam o fado.
A sua melhor qualidade é o lambebotismo. A segunda, a
passividade. Estou em crer que um português, sentado na cadeira elétrica e com
a corrente voltaica a passar por ele, manter-se-á totalmente impassível.
Lamechas, nada assume, tudo aponta. Irresponsável por
natureza, queixinhas por feitio e saudosista por tradição...
Enfim, "o sol da nossa simpatia". Uma casinha
caiada de branco, pão e vinho sobre a mesa. Fundilhos nas calças, dentes podres.
O estômago colado às costas, inda assim, não calado.
É este o meu Portugal, o bom povo português...
Porra! Façam alguma coisa, c'um caneco! Nem que seja retirar
macacos dos narizes avermelhados e atirá-los uns aos outros.
Mas isso já exigiria um incómodo demasiado.
Jaime Crespo