O sismo de Abril de 1909, em Benavente, de magnitude 6.7,
foi um dos sismos instrumentais com maior impacto, resultante da actividade
intraplacas.
O sismo teve origem na Falha do Vale Inferior do Tejo, uma
falha intra-placa activa e terá atingido uma magnitude Ms = 6.3 na escala de
Richter. Foi o mais importante sismo gerado sob o território continental
português em todo o século XX, uma vez que o sismo de 1969 (de magnitude
superior a 7.0) teve o seu epicentro a SW da costa algarvia.
De acordo com relatos da época, o sismo teve uma duração de
22 segundos. Os mesmos relatos referem que o terramoto se terá desenrolado em
duas fases, iniciando com um movimento vertical seguido por vários abalos
horizontais mais violentos e de maior duração. Ao longo das semanas que se
seguiram, sentiram-se várias réplicas com menor intensidade.
O sismo provocou 42 mortos e 75 feridos, distribuindo-se as vítimas mortais do seguinte
modo: 30 na freguesia de Benavente, 7 na freguesia de Samora Correia, 3 na
freguesia de Santo Estêvão e 2 na freguesia de Salvaterra de Magos.
In www.wikipedia.org
Em relação ao grau de destruição, a vila de Benavente foi
sem dúvida a mais afectada tendo quarenta por cento das suas habitações ficado
totalmente destruídas, outras tantas sem condições para voltarem a ser
habitadas e apenas vinte por cento recuperáveis, após obras de reparação.
O património religioso foi sem sombra de dúvida o mais
afectado, tendo ficado destruídas a Igreja Matriz, a Igreja de Santiago, e a
Capela de Nª. Sra. da Paz (Benavente) e bastante danificada a Igreja Matriz de
Samora Correia. Dos edifícios públicos, apenas os edifícios da Câmara Municipal
e do actual Museu Municipal (em Benavente) e o Palácio da Companhia das
Lezírias (em Samora
Correia ) resistiram, mesmo assim com danos relevantes.
No dia seguinte, o rei D. Manuel visita a zona sinistrada e
as forças militares começam a instalar tendas de campanha trazendo consigo
mantas, camas, roupas. O Hospital Militar da Estrela envia para o local médicos
e enfermeiras.
Por todo o país e no estrangeiro foram feitas subscrições,
bandos precatórios e récitas de caridade, com a finalidade de angariar meios
para acudir aos mais necessitados. Destacam-se as iniciativas levadas a cabo
pelos jornais: “Diário de Notícias”, “O Século” e ainda pela Associação
Comercial de Lisboa e pelo Clube de Fenianos do Porto, contribuindo assim para
a reconstrução e recuperação de habitações e escolas.
in www.cm-benavente.pt
Câmara de Nisa não ficou indiferente à tragédia do Ribatejo
A Câmara Municipal de Nisa, presidida por Mário Augusto de Miranda Monteiro não ficou indiferente à tragédia que ocorreu no Ribatejo e por iniciativa do seu presidente promoveu, a nível de todo o concelho, diversas acções de recolha de fundos, não se eximindo a fazer participar os "notáveis" do município.
Numa dessas iniciativas, a Filarmónica Nizense percorreu as ruas da vila, apelando ao auxílio dos nisenses, uma contribuição que deveria ser modesta, quase irrisória, dadas as grandes dificuldades sentidas na época.
Os documentos que publicamos (1) dão conta das principais diligências promovidas pela Câmara de Nisa (com um z, na altura) bem como do montante apurado.
* Donativos para as
vítimas do terramoto (I)
25 Maio 1909 – Carta ao presidente da Junta de Parochia da
freguezia de Alpalhão
Exmo Sr. – Accuso a recepção do seu officio de 21 do
corrente da quantia de 102$440 reis, que deu entrada na thesouraria municipal
para depois de recebidas as subscripções do restante do concelho, ser enviada
conjuntamente com as outras quantias, já recebidas e a receber, à Sociedade
Cruz Vermelha, para lhe dar o devido destino. = Foi generoso e patriótico o
procedimento de Vª Exª, da Junta da Parochia, Confraria do Santíssimo
Sacramento, Irmandade da Misericórdia e povo d´essa freguezia e, por isso, em
nome da Câmara Municipal d´este concelho e dos infelizes a quem vamos socorrer,
a todos louvo e agradeço o auxilio que prestaram.
Deus guarde Vª Exª -
O presidente da Câmara Municipal: Mário Monteiro
26 Maio 1909 – Carta ao presidente da Junta de Parochia da
freguezia de Tolosa
Exmo Sr. – Accuso a recepção do seu officio de 21 do
corrente da quantia de 23$665 reis, que deu entrada na thesouraria municipal
para depois de recebidas as subscripções do restante do concelho, ser enviada
conjuntamente com as outras quantias, já recebidas e a receber, à Sociedade
Cruz Vermelha, para lhe dar o devido destino. = Foi generoso e patriótico o
procedimento de Vª Exª, da Junta da Parochia e povo d´essa freguezia e, por
isso, em nome da Câmara Municipal d´este concelho e dos infelizes a quem vamos
socorrer, a todos louvo e agradeço o auxilio que prestaram.
Deus guarde Vª Exª -
O presidente da Câmara Municipal: Mário Monteiro
27 Maio 1909 – Carta ao presidente da Junta de Parochia da
freguezia de Amieira
Exmo Sr. – Accuso a recepção do seu officio de 21 do
corrente da quantia de 24$705 reis, que deu entrada na thesouraria municipal
para depois de recebidas as subscripções do restante do concelho, ser enviada
conjuntamente com as outras quantias, já recebidas e a receber, à Sociedade
Cruz Vermelha, para lhe dar o devido destino. = Foi generoso e patriótico o
procedimento de Vª Exª, da Junta da Parochia e povo d´essa freguezia e, por
isso, em nome da Câmara Municipal d´este concelho e dos infelizes a quem vamos
socorrer, a todos louvo e agradeço o auxilio que prestaram.
Deus guarde Vª Exª -
O presidente da Câmara Municipal: Mário Monteiro
* Auxílio às vítimas
do terramoto do Ribatejo
4 Maio 1909 – Carta aos presidentes das J. Parochia do concelho
(excepção às 2 da villa)
Exmo Sr. – Deliberou a Câmara Municipal a que presido,
promover em todo o concelho a realização de uma subscripção pública para a
obtenção de donativos destinados às vítimas do terramoto do Ribatejo,
parecendo-lhe conveniente que todos os donativos lhe sejam enviados para lhes
dar o devido destino. =
Assim haverá maior unidade e cohesão nos socorros dados por
este município e mais prestante será a quantia enviada, por ser mais avultada.
= Deliberou também officiar a todas as juntas de parochia do concelho,
convidando-as as promoverem, com a maior brevidade possível, nas suas freguezias
as referidas subscripções. = Nestes termos venho não só communicar a Vª Exª
estas resoluções, mas, em cumprimento d´ellas solicitar-lhe o apoio da
corporação a que preside, para a execução d´este pensamento pela maneira que
mais conveniente se lhe affigure, conforme as condições locaes. = É mais que um
dever de humanidade; é um dever de solidariedade nacional e patriótica da
prestação dos socorros possíveis aos nossos infelizes irmãos, tão duramente
feridos pela catastrophe.
Deus guarde Vª Exª – Mário Monteiro
* Auxílio às vítimas
do terramoto do Ribatejo (II)
11 Maio 1909 – Carta ao Provedor da Misericórdia de Niza
Exmo e Ilº Sr. – Deliberou a Câmara Municipal deste concelho
promover no dia 16 do corrente, a realização de um laudo precatório nesta
villa, a fim de obter donativos destinados a socorrer as victimas do terramoto
do Ribatejo, pedindo para tal effeito a cooperação das diversas auctoridades e
empregados públicos que, em virtude da sua categoria official e como detentores
que são e representantes do principio de auctoridade e dos poderes do Estado,
nas suas múltiplas e complexas manifestações, devem todo o apoio e protecção a
qualquer emprehendimento de interesse nacional e ainda a das parochias das
freguezias da villa, Misericórdia e antigos presdentes da Câmara Municipal do
concelho, residentes na capital do mesmo. = É um alto dever de solidariedade
nacional e patriotismo o que actualmente impende sobre nós de procurarmos,
tanto quanto possível, alliviar a dolorosa situação em que se encontram os nossos
infelizes irmãos do Ribatejo, tão gravemente attingidos pela desgraça e, por
isso, confiado no bom resultado do apello que dirijo ao generoso coração e
sentimentos de civismo de Vª Exª, venho pedir-lhe que, para encorporar-se no
laudo precatório se digne comparecer nesta Camara no referido dia 16, pelo meio
dia, com os dignos membros da meza da Misericórdia.
Deus guarde Vª Exª – Mário Monteiro
Mário Augusto de Miranda Monteiro, nasceu em Sobral (Carregal do Sal) a 10.02.1870 e faleceu em Lisboa, freguesia das Mercês, em 01.10.1955
Era filho de Jerónimo da Costa Monteiro e de Emília Augusta de Miranda tendo casado em Nisa, na Igreja Matriz em 01.07.1897 com Maria Antónia Diniz Vieira.Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi Advogado e teve um lugar distinto no Parlamento como representante do
Distrito de Portalegre no antigo regime (monarquia), onde apresentou diversas propostas, algumas de grande mérito, visando o desenvolvimento não só do concelho de Nisa , mas de todo o distrito de Portalegre e do Alentejo.
Foi grande proprietário no Concelho de Nisa e Presidente da Câmara Municipal de Nisa, para além de Conservador do Registo Predial na Comarca de Nisa (1897) e de Presidente do Conselho de Administração do Banco da
Agricultura.
Notas
(1) - Câmara Municipal de Nisa - Correspondência Expedida 1909-1913
(2) - Mário Monteiro, homenageado pelo município de Nisa, tem uma rua com o seu nome ( o antigo Canto do Adrião), no centro histórico de Nisa.
A breve trecho será publicado artigo mais desenvolvido sobre este ilustre cidadão, advogado e político.
Mário Mendes
(1) - Câmara Municipal de Nisa - Correspondência Expedida 1909-1913
(2) - Mário Monteiro, homenageado pelo município de Nisa, tem uma rua com o seu nome ( o antigo Canto do Adrião), no centro histórico de Nisa.
A breve trecho será publicado artigo mais desenvolvido sobre este ilustre cidadão, advogado e político.
Mário Mendes