21.8.13

MEMÓRIA: O Terramoto de 1909 em Benavente e a ajuda da população do concelho de Nisa

O sismo de Abril de 1909, em Benavente, de magnitude 6.7, foi um dos sismos instrumentais com maior impacto, resultante da actividade intraplacas.
 O Sismo de Benavente de 1909 foi um abalo telúrico que ocorreu no dia 23 de abril de 1909, às 17:05h. Afectou a região ribatejana que abrange os concelhos de Benavente e Salvaterra de Magos, tendo provocado cerca de quatro dezenas de mortos e elevados prejuízos materiais.
O sismo teve origem na Falha do Vale Inferior do Tejo, uma falha intra-placa activa e terá atingido uma magnitude Ms = 6.3 na escala de Richter. Foi o mais importante sismo gerado sob o território continental português em todo o século XX, uma vez que o sismo de 1969 (de magnitude superior a 7.0) teve o seu epicentro a SW da costa algarvia.
De acordo com relatos da época, o sismo teve uma duração de 22 segundos. Os mesmos relatos referem que o terramoto se terá desenrolado em duas fases, iniciando com um movimento vertical seguido por vários abalos horizontais mais violentos e de maior duração. Ao longo das semanas que se seguiram, sentiram-se várias réplicas com menor intensidade.
O sismo provocou 42 mortos e 75 feridos,  distribuindo-se as vítimas mortais do seguinte modo: 30 na freguesia de Benavente, 7 na freguesia de Samora Correia, 3 na freguesia de Santo Estêvão e 2 na freguesia de Salvaterra de Magos.
In www.wikipedia.org
Em relação ao grau de destruição, a vila de Benavente foi sem dúvida a mais afectada tendo quarenta por cento das suas habitações ficado totalmente destruídas, outras tantas sem condições para voltarem a ser habitadas e apenas vinte por cento recuperáveis, após obras de reparação.
O património religioso foi sem sombra de dúvida o mais afectado, tendo ficado destruídas a Igreja Matriz, a Igreja de Santiago, e a Capela de Nª. Sra. da Paz (Benavente) e bastante danificada a Igreja Matriz de Samora Correia. Dos edifícios públicos, apenas os edifícios da Câmara Municipal e do actual Museu Municipal (em Benavente) e o Palácio da Companhia das Lezírias (em Samora Correia) resistiram, mesmo assim com danos relevantes.
No dia seguinte, o rei D. Manuel visita a zona sinistrada e as forças militares começam a instalar tendas de campanha trazendo consigo mantas, camas, roupas. O Hospital Militar da Estrela envia para o local médicos e enfermeiras.
Por todo o país e no estrangeiro foram feitas subscrições, bandos precatórios e récitas de caridade, com a finalidade de angariar meios para acudir aos mais necessitados. Destacam-se as iniciativas levadas a cabo pelos jornais: “Diário de Notícias”, “O Século” e ainda pela Associação Comercial de Lisboa e pelo Clube de Fenianos do Porto, contribuindo assim para a reconstrução e recuperação de habitações e escolas.
in www.cm-benavente.pt
Câmara de Nisa não ficou indiferente à tragédia do Ribatejo
A Câmara Municipal de Nisa, presidida por Mário Augusto de Miranda Monteiro não ficou indiferente à tragédia que ocorreu no Ribatejo e por iniciativa do seu presidente promoveu, a nível de todo o concelho, diversas acções de recolha de fundos, não se eximindo a fazer participar os "notáveis" do município.
Numa dessas iniciativas, a Filarmónica Nizense percorreu as ruas da vila, apelando ao auxílio dos nisenses, uma contribuição que deveria ser modesta, quase irrisória, dadas as grandes dificuldades sentidas na época.
Os documentos que publicamos (1) dão conta das principais diligências promovidas pela Câmara de Nisa (com um z, na altura) bem como do montante apurado. 
* Donativos para as vítimas do terramoto (I)
25 Maio 1909 – Carta ao presidente da Junta de Parochia da freguezia de Alpalhão
Exmo Sr. – Accuso a recepção do seu officio de 21 do corrente da quantia de 102$440 reis, que deu entrada na thesouraria municipal para depois de recebidas as subscripções do restante do concelho, ser enviada conjuntamente com as outras quantias, já recebidas e a receber, à Sociedade Cruz Vermelha, para lhe dar o devido destino. = Foi generoso e patriótico o procedimento de Vª Exª, da Junta da Parochia, Confraria do Santíssimo Sacramento, Irmandade da Misericórdia e povo d´essa freguezia e, por isso, em nome da Câmara Municipal d´este concelho e dos infelizes a quem vamos socorrer, a todos louvo e agradeço o auxilio que prestaram.
Deus guarde Vª Exª  - O presidente da Câmara Municipal: Mário Monteiro
 * Donativos para as vítimas do terramoto (II)
26 Maio 1909 – Carta ao presidente da Junta de Parochia da freguezia de Tolosa
Exmo Sr. – Accuso a recepção do seu officio de 21 do corrente da quantia de 23$665 reis, que deu entrada na thesouraria municipal para depois de recebidas as subscripções do restante do concelho, ser enviada conjuntamente com as outras quantias, já recebidas e a receber, à Sociedade Cruz Vermelha, para lhe dar o devido destino. = Foi generoso e patriótico o procedimento de Vª Exª, da Junta da Parochia e povo d´essa freguezia e, por isso, em nome da Câmara Municipal d´este concelho e dos infelizes a quem vamos socorrer, a todos louvo e agradeço o auxilio que prestaram.
Deus guarde Vª Exª  - O presidente da Câmara Municipal: Mário Monteiro
 * Donativos para as vítimas do terramoto (III)
27 Maio 1909 – Carta ao presidente da Junta de Parochia da freguezia de Amieira
Exmo Sr. – Accuso a recepção do seu officio de 21 do corrente da quantia de 24$705 reis, que deu entrada na thesouraria municipal para depois de recebidas as subscripções do restante do concelho, ser enviada conjuntamente com as outras quantias, já recebidas e a receber, à Sociedade Cruz Vermelha, para lhe dar o devido destino. = Foi generoso e patriótico o procedimento de Vª Exª, da Junta da Parochia e povo d´essa freguezia e, por isso, em nome da Câmara Municipal d´este concelho e dos infelizes a quem vamos socorrer, a todos louvo e agradeço o auxilio que prestaram.
Deus guarde Vª Exª  - O presidente da Câmara Municipal: Mário Monteiro
* Auxílio às vítimas do terramoto do Ribatejo
4 Maio 1909 – Carta aos presidentes das J. Parochia do concelho (excepção às 2 da villa)
Exmo Sr. – Deliberou a Câmara Municipal a que presido, promover em todo o concelho a realização de uma subscripção pública para a obtenção de donativos destinados às vítimas do terramoto do Ribatejo, parecendo-lhe conveniente que todos os donativos lhe sejam enviados para lhes dar o devido destino. =
Assim haverá maior unidade e cohesão nos socorros dados por este município e mais prestante será a quantia enviada, por ser mais avultada. = Deliberou também officiar a todas as juntas de parochia do concelho, convidando-as as promoverem, com a maior brevidade possível, nas suas freguezias as referidas subscripções. = Nestes termos venho não só communicar a Vª Exª estas resoluções, mas, em cumprimento d´ellas solicitar-lhe o apoio da corporação a que preside, para a execução d´este pensamento pela maneira que mais conveniente se lhe affigure, conforme as condições locaes. = É mais que um dever de humanidade; é um dever de solidariedade nacional e patriótica da prestação dos socorros possíveis aos nossos infelizes irmãos, tão duramente feridos pela catastrophe.
Deus guarde Vª Exª – Mário Monteiro
* Auxílio às vítimas do terramoto do Ribatejo (II)
11 Maio 1909 – Carta ao Provedor da Misericórdia de Niza
Exmo e Ilº Sr. – Deliberou a Câmara Municipal deste concelho promover no dia 16 do corrente, a realização de um laudo precatório nesta villa, a fim de obter donativos destinados a socorrer as victimas do terramoto do Ribatejo, pedindo para tal effeito a cooperação das diversas auctoridades e empregados públicos que, em virtude da sua categoria official e como detentores que são e representantes do principio de auctoridade e dos poderes do Estado, nas suas múltiplas e complexas manifestações, devem todo o apoio e protecção a qualquer emprehendimento de interesse nacional e ainda a das parochias das freguezias da villa, Misericórdia e antigos presdentes da Câmara Municipal do concelho, residentes na capital do mesmo. = É um alto dever de solidariedade nacional e patriotismo o que actualmente impende sobre nós de procurarmos, tanto quanto possível, alliviar a dolorosa situação em que se encontram os nossos infelizes irmãos do Ribatejo, tão gravemente attingidos pela desgraça e, por isso, confiado no bom resultado do apello que dirijo ao generoso coração e sentimentos de civismo de Vª Exª, venho pedir-lhe que, para encorporar-se no laudo precatório se digne comparecer nesta Camara no referido dia 16, pelo meio dia, com os dignos membros da meza da Misericórdia.
Deus guarde Vª Exª – Mário Monteiro
 (Idênticos se expediram com o mesmo nº e data, ao Juiz de Direito desta comarca, para comparecer com o pessoal da mesma, ao escrivão da Fazenda deste concelho, e aos seguintes cidadãos, presidentes e vice-presidentes das gerências deste município nos differentes anos anteriores:
Visconde Vale da Sobreira, Manoel Caetano de Barros Castello Branco, José Manuel da Fonseca, Manuel Diniz Pinto Fragoso, José Pedro Pestana Goulão, José Joaquim Caldeira, Bartolomeu Diniz de Almeida, José da Cruz Frade, assim como se expediram ao Delegado do Procurador Régio nesta comarca, conservador do registo predial da mesma, subdelegado de saúde nesse concelho, facultativo municipal Dr. Francisco da Graça Miguéns, recebedor deste concelho e inspector de 1ª classe dos impostos.
Quem era o Presidente da Câmara Municipal de Nisa (2)
Mário Augusto de Miranda Monteiro, nasceu em Sobral (Carregal do Sal) a 10.02.1870 e faleceu em Lisboa, freguesia das Mercês, em  01.10.1955
Era filho de Jerónimo da Costa Monteiro e de Emília Augusta de Miranda tendo casado em Nisa, na Igreja Matriz  em 01.07.1897 com Maria Antónia Diniz Vieira.Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi Advogado e teve um lugar distinto no Parlamento como representante do Distrito de Portalegre no antigo regime (monarquia), onde apresentou diversas propostas, algumas de grande mérito, visando o desenvolvimento não só do concelho de Nisa , mas de todo o distrito de Portalegre e do Alentejo.
Foi grande proprietário no Concelho de Nisa e Presidente da Câmara Municipal de Nisa, para além de Conservador do Registo Predial na Comarca de Nisa (1897) e de Presidente do Conselho de Administração do Banco da Agricultura.
Notas
(1) - Câmara Municipal de Nisa - Correspondência Expedida 1909-1913
(2) - Mário Monteiro, homenageado pelo município de Nisa, tem uma rua com o seu nome ( o antigo Canto do Adrião), no centro histórico de Nisa.
A breve trecho será publicado artigo mais desenvolvido sobre este ilustre cidadão, advogado e político.
Mário Mendes