CARTA DO LEITOR ( Jornal "Alto Alentejo" - 31 Julho 2013)
Antes de vos narrar o que comigo se passou, consultei
o site da Direção-Geral da Saúde, e lá permitem-me expor-lhes estes factos como
reclamação ou como elogio, confesso que quando recordo o que se passou, a minha
vontade é tratar como reclamação, mas optei pelo elogio, por forma a assim
louvar os excelentes profissionais que ainda temos na área da Saúde neste País.
Tudo teve início no dia 7, um domingo, quando
detectei que uma das minhas filhas de 8 anos, repito, 8 anos, estava com febre.
Fiquei atento, e como no dia seguinte, 2ª
feira, a mesma acordou com febre, dirigi-me de imediato ao Centro de Saúde de
Nisa, nessa bela localidade onde me encontrava com ela a desfrutar um breve
período de férias. Ai chegado, a informação prestada no balcão administrativo,
foi de que a meio do corredor tirasse uma senha e aguardasse a minha vez para a
Enfermeira de Serviço ver a minha filha (fazer a triagem, foi o termo
utilizado). Assim fiz, e logo após tirar a senha reparei que tinha à minha
frente cerca de 10 pessoas, todas com idade (de 3ª idade, para ser mais
preciso) umas para pedirem medicamentos, outras para fazer mudança de pensos,
isto por volta das 10h da manhã e segundo opinião geral das pessoas que lá se
encontravam, antes das 15h a minha filha não seria observada pela Enfermeira
que lá se encontrava de serviço nesse dia e que dava pelo nome de (a).
A dona da casa onde me encontrava a passar esses
dias e que muito gentilmente me acompanhou ao referido Centro, bateu à porta do
gabinete onde se encontrava a referida Enfermeira, no sentido de somente a
questionar se as crianças não teriam prioridade de atendimento, ninguém
respondeu do lado de lá, decidimos aguardar que alguém de lá saísse. Passado
algum tempo, abre-se a porta e de lá sai a referida Enf. (a), ao que a pessoa
que me acompanhava, natural de Nisa, lhe disse: «Posso fazer-lhe uma pergunta?»
ao que a referida Enf. logo lhe respondeu: «Tem de aguardar a sua vez, ou acha
que estas pessoas que estão à sua frente não têm perguntas também para colocar?»,
«mas é só uma pequena pergunta, de sim ou não!!!» respondeu-lhe a senhora, ao que
a Enf. (a), após lhe ter virado as costas e circulando pelo corredor lhe
responde: «tem de esperar que chame a sua senha». Fiquei tão atónito com tal
tratamento por parte dessa
enfermeira que decidi pegar na minha filha e
abandonar o Centro de Saúde de Nisa, não sem antes ouvir o seguinte comentário
por parte de alguém que por lá se encontrava: «Aqui em Nisa, esta Enfermeira é
quem decide quem vive e quem morre» fazendo o sinal com o polegar a apontar
para cima e a apontar para baixo, tão ao jeito dos Imperadores Romanos nalgum
Coliseu...
Enquanto estive a aguardar que aquela porta se
abrisse, lembrei-me dos conselhos do seu Pediatra, e de me dizer que a febre só
seria preocupante depois de se ter manifestado durante 3 dias seguidos, e até a
minha filha me referiu à saída, ainda meio assustada com a situação, que já
estava melhor, que já lhe doía bem menos a garganta...
Passados 3 dias a febre ainda ia e vinha, e já
eu pensava que caso ela acordasse no dia seguinte com febre, lá íamos nós
directos a Lisboa consultar o seu Pediatra. Como ela se queixava ao final do dia
com dores de garganta, estávamos em Castelo de Vide, e logo à minha frente
estava uma Farmácia (Roque, passe a publicidade), resolvi entrar e expliquei as
dores e a situação da minha filha, por forma a que lhe fornecessem algo que lhe
amenizasse as dores. Logo na Farmácia me disseram que fosse ao Centro de Saúde
para a verem lá (confesso que logo que ouvi o nome, Centro de Saúde, me
arrepiei), que não sabiam o horário de atendimento mas que ligariam (da Farmácia)
para lá, assim fizeram, encerrava às 19 horas e ainda eram 18.25h, que ainda
tinha tempo, explicaram-me o caminho (era relativamente perto) e lá fui eu com
a minha filha. Às 18.35h lá estava, na recepção admnistrativa logo me pediram
os dados da minha filha (tinha o Cartão de Cidadão dela, mas apercebi-me que
caso nada tivesse a atenderiam na mesma), preencheram algo no sistema deles e
disseram que era só aguardar, pois o Médico que estava de serviço estaria a
atender uma pessoa e que a minha filha era atendida logo a seguir.
Aguardei, até a chamarem à presença do Dr. Manuel
Pires, que a observou e de imediato lhe diagnosticou uma Amigdalite Aguda, e
que tal necessitava de ser imediatamente tratado, que um antibiótico em
comprimidos ou xarope iria demorar, teria de ser uma injecção de penicilina, mas
que o Centro estaria a fechar (eram já 18.55h), perguntei-lhe se a comprasse
ainda nesse dia, se no outro dia poderia ir ao Centro com ela para a aplicarem
na minha filha, ao que o Dr. Manuel Pires me respondeu que sim, mas que o ideal
seria administrá-la já, ao que olha para o relógio e me diz: «Pai, vá depressa à
Farmácia que a sua filha ainda a toma hoje».
Após ouvir isto, corri (literalmente) à
mesma Farmácia que ainda estava aberta, comprei a dita penicilina, e regressei
ao Centro de Saúde de Castelo de Vide, onde cheguei já depois das 19h, mas lá
me aguardavam, além da funcionária administrativa que me tinha atendido, também
o enfermeiro de serviço a quem concerteza o Dr. pediu que aguardasse por nós, aplicou-lhe
a injecção sempre com um sorriso no rosto e brincadeiras com ela (recordo que a
minha filha tem 8 anos) de modo a que lhe fosse menos doloroso. De lá saimos, já
bem depois das 19h, onde me desfiz em agradecimentos a todos os que aguardavam
a nossa saída para encerrarem o Centro, em todos vi sorrisos no rosto, com o
sentimento de dever cumprido.
No dia seguinte, a minha filha já acordou sem
febre, que não mais voltou, de dores de garganta também nunca mais se queixou.
De
Nisa a Castelo de Vide distam menos de 30 Kms de estrada, mas de atendimento
médico distam bem mais de 3000.
Relato
de um pai
Rui Félix
(a)
omitimos o nome da enfermeira referenciada