As diversas forças políticas concorrentes às eleições autárquicas de 29 de Setembro já estão no terreno e a prometerem - como fazem de 4 em 4 anos - os "remédios" para todos os problemas.
O jornal "O Público" tem publicado dados estatísticos referentes a todos os concelhos do país, dados esses baseados em fontes oficiais e de que colhemos os respeitantes a cinco concelhos vizinhos do de Nisa e, curiosamente, com gestão política de diversas "cores". São concelhos do interior, do interior mais profundo e desprezado pelo poder central, com o isolamento e a ausência de políticas de emprego, bem expressos nos números da desertificação física e humana que nos transmite o Índice de Envelhecimento, muito semelhante entre os seis concelhos e com particular agravamento no de Vila Velha de Ródão.
Outros números que requerem especial atenção - e nos devem causar apreensão, revolta e a urgente denúncia - por não corresponderem à realidade, dizem respeito à relação médicos / habitantes.
Se tomarmos como exemplo os casos de Castelo de Vide e de Nisa, cuja diferença de tratamento nos respectivos Centros de Saúde foi objecto de uma carta de um utente, verificamos que a relação apontada ( 1 médico para cada 424 habitantes em Castelo de Vide; 1 médico para cada 742 habitantes, em Nisa) está muito longe da realidade existente. Como noticiava, há anos, o "Jornal do Fundão" em título, que "Não há leite para tanto queijo", também, e apenas referente a estes dois concelhos podemos dizer que: Não há médicos para tanta população!.
Em Castelo de Vide, seriam necessários 8 médicos para que os números oficiais correspondessem à realidade. Em Nisa, essa constatação é, ainda, mais brutal: seriam necessários 10 médicos, para que cada um pudesse dar assistência aos 742 utentes ou habitantes do concelho apontados na estatística.
Houve, aqui, portanto e como canta o José Mário Branco, "alguém que se enganou". Pior, que continua a enganar-nos com os números das estatísticas ditas oficiais e que, na verdade, não passam de uma miragem.
O Centro de Saúde de Nisa tem quatro médicos no serviço permanente.Serão cinco com a Subdelegada de Saúde que nos visita uma vez por semana e que reparte as suas funções com o concelho de Castelo de Vide.
Onde estão, então, os restantes médicos, cinco ou seis que faltam, para satisfazerem, capazmente, as necessidades de prestação de cuidados de saúde à população do concelho?
O que têm feito os autarcas (Câmara, Juntas de Freguesia, Assembleia Municipal) no sentido de denunciar e pedir a resolução deste problema?
O que fez até agora, que diligências promoveu e qual o papel da Comissão Municipal de Saúde, relativamente a estas importantes questões?
O problema levantado por aquele pai (Rui Félix) na carta que tornou pública no jornal "Alto Alentejo", não é, apenas - antes fosse - um problema da enfermeira A ou B. É um problema de estrutura, de organização, de responsabilização da chefia de um serviço de saúde público - pago por todos nós, utentes - e que não corresponde ao que dele devia ser exigido.
Os políticos locais e candidatos às autarquias, em plena campanha, em vez das visitas e das acções de circunstância, deviam, com carácter de urgência - porque dela depende a saúde das populações que dizem defender - questionar os serviços públicos, o da saúde, em primeiro lugar e procurar conhecer a realidade e obter explicações, sérias e conscientes, para os números de tamanha discrepância..
Sem isso, continuaremos a ser um concelho amordaçado e manietado pela teia do silêncio e do medo imposto.
Dez médicos no concelho de Nisa? Era bom, era! Ao menos, que estivessem disponíveis e atenciosos, os seis ou sete que sempre aqui cumpriram as suas funções.
Não seria, sequer, pedir muito...
Mário Mendes