Em comunicado divulgado este domingo, o Sindicato dos Jornalistas informa que o administrador de insolvência do grupo Trust in News, dono da “Visão”, “Jornal de Letras” e “Caras”, entre outros meios de comunicação social, entregou, na passada sexta-feira, um pré-aviso de despedimento aos cerca de 80 trabalhadores da empresa.
Todos os trabalhadores do grupo foram assim confrontados com este “desfecho que começou a desenhar-se há meses e cujos reais contornos devem ser apurados em todas as dimensões, desde a jornalística, à económica, financeira, política e até judicial”.
Naquilo que a direção sindical considera uma “postura incompreensível e intolerável”, a administração da TiN pediu aos trabalhadores “que continuassem a trabalhar para manter vivos os títulos, com o argumento de gerar receita, apesar de não ser dada qualquer garantia de remuneração”.
O Sindicato dos Jornalistas “teme” que “se esteja a preparar uma venda a preço de saldo” dos históricos títulos da empresa “sem “o inconveniente e o incómodo” de existirem pessoas a quem pagar salários e garantir direito”.
Aos trabalhadores que têm em atraso o salário de junho “e em breve o de julho”, assim como os subsídios de férias e os subsídios de refeição de maio e de junho, receberam um pedido para continuarem a a trabalhar sem garantia de retribuição.
O SJ considera isto uma “ignomínia” e “recorda a todos os que aceitarem continuar a trabalhar poderão estar a ajudar a salvar uma negociata cujos contornos não são claros neste momento e que, perdendo todos os direitos como trabalhadores com o despedimento agora anunciado, não têm qualquer garantia de vir a ser integrados numa empresa que eventualmente possa nascer”.
Para além disso, “podem estar a contribuir para salvar títulos que, no futuro, podem ser usados para fazer um jornalismo completamente diferente do que fizeram nestes anos, em que engrandeceram a profissão e contribuíram para uma sociedade mais esclarecida, dado o rigoroso escrutínio de que se revestiu muito do que foi feito jornalisticamente no grupo TiN, enquanto teve capacidade financeira”.
Finalmente, critica-se o ministro da presidência, Leitão Amaro, que tem a tutela da Comunicação Social, por quase dois meses depois de ter tomado posse ainda não ter respondido ao pedido de audiência solicitado pelo sindicato.
O Expresso deu conta, também este domingo, que um grupo de jornalistas da Visão entregou na sexta-feira no tribunal de Sintra um requerimento em que se solicita que, apesar do processo de liquidação da Trust in News, as publicações da empresa possam continuar a funcionar, alegando terem um projeto para as viabilizar.
Recorde-se que o Tribunal de Sintra tinha decidido não homologar o plano de recuperação que tinha sido elaborado por Luís Delgado, proprietário da empresa, e que os credores tinham aprovado no final de maio. Ao contrário destes, o tribunal terá considera, escreve o semanário, “desproporcionais os sacrifícios exigidos aos credores, isto apesar de nenhum deles ter solicitado a recusa da homologação”.
Face a isto, os onze jornalistas da Visão em causa, nos quais se inclui o diretor Rui Tavares Guedes, requerem uma nova Assembleia de Credores em que a cláusula que foi considerada ilegal seja retirada e o plano de insolvência aprovado. É nesse contexto que, caso isto não seja possível, pedem “autorização para que, até à venda do título da Visão, a revista se possa manter em funções, sob a égide do administrador de Insolvência, considerando o plano que nesta data lhe foi entregue para apreciação, com as demais condições que venham a ser aprovadas nessa assembleia de credores”.
In www.esquerda.net - 28 de julho 2025