25.7.23

OPINIÃO: Para onde vais Espanha?

 
O que está em causa no ato eleitoral que ontem decorreu em em Espanha é muito mais do que o retrocesso dos direitos das mulheres e da comunidade LGBT. O que está em causa, verdadeiramente, é a essência de um país: continuar o caminho progressista que trilhou até agora ou transformar-se numa nação saudosista e conservadora. No pior sentido.
À hora já tardia em que escrevi esta crónica tudo estava em aberto, mas cada vez mais longe a hipótese de o Partido Popular conseguir uma maioria absoluta, mesmo coligado com o Vox. Parece assim afastada a possibilidade de a extrema-direita voltar ao poder em Espanha. O partido que poderia ajudar Nunes Feijóo a chegar até ao palácio da Moncloa não renega a ditadura de Franco, e já prometeu fazer reverter muitas outras conquistas da democracia espanhola: os direitos da comunidade LGBT, dos imigrantes e das mulheres, entre outras.
Foi um país completamente fraturado que ontem foi a votos. Manuel Nunes Feijóo, o candidato do Partido Popular, faria tudo para não deixar fugir a oportunidade de ser primeiro-ministro de Espanha, mesmo que para isso tivesse de fazer uma coligação com Santiago Abascal, como já aconteceu em várias comunidades autónomas desde 28 de maio. Aqui os sinais de retrocesso têm sido evidentes, logo com a censura a várias manifestações culturais. Aliás, Abascal disse bem alto no último comício de campanha em Madrid: “Vamos cancelar a cultura deles”. Referia-se com certeza a autores como a já desaparecida Virginia Woolf que cometeu o “pecado” de ser lésbica: recentemente uma peça de teatro com um texto seu foi cancelada num município governado pela coligação PP/Vox.
Parece, neste momento, pouco provável que a aliança tenha condições para chegar ao Governo central. Os espanhóis mobilizaram-se. Pelo progresso.
* Paula Ferreira - Jornal de Notícias - 24 julho, 2023