23.7.23

SOCIEDADE: Ex-combatentes em greve de fome a partir de 17 de agosto

 
Mais de uma centena de antigos combatentes da guerra do Ultramar concentraram-se esta tarde, no Porto, para exigirem respeito e o cumprimento do estatuto do combatente. A partir do dia 20 de agosto, quando o estatuto faz três anos - vão iniciar uma greve de fome junto ao Palácio de Belém, em Lisboa.  
Entre as principais reivindicações está o reconhecimento do Estatuto de Combatente para os ex-militares que estiveram em Timor, um subsídio mensal de 60 euros para todos os antigos combatentes e o acesso ao hospital militar. Os ex-militares denunciaram ainda que cerca de 136 mil cartões de ex-combatentes estão retidos no Ministério da Defesa, que é incapaz de devolver os cartões aos antigos militares. 
Quem o diz é António Silva, membro do movimento pró Dignidade do Estatuto do Combatente, que classifica a situação como muito grave. “Quem não tem o cartão tem de pagar taxas moderadoras e não beneficia do passe intermodal nos transportes públicos”, explica. 
Como consideram a situação insustentável, prometem iniciar uma greve de fome, em meados de agosto, junto ao Palácio de Belém e esperam ser recebidos pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. “Só saímos de lá quando os combatentes começarem a ser respeitados”, afirma o ex-militar. “Muitos combatentes têm reformas de 300 euros e quando vão à farmácia têm de comprar a medicação do seu bolso, alguns cheios de traumas da guerra”, acrescenta. 
Respeitem os combatentes do Ultramar 
Na Praça Carlos Alberto, dezenas de militares de todo o país juntaram-se em torno destas reivindicações. “Respeitem os combatentes do Ultramar”, era uma das frases que se podia ler num dos cartazes expostos junto do monumento do Soldado Desconhecido.
José Afonso, 80 anos, combateu em Angola, durante dois anos, entre 1965 e 1967. Decidiu participar na manifestação na expectativa de encontrar alguns companheiros e mostrar que os ex-militares da guerra do Ultramar não podem ser esquecidos. “Fomos para lá catraios, sofremos muito. Os governantes deviam olhar para nós com outros olhos", refere.  
Para o antigo combatente, o valor que recebem todos os meses (é variável consoantes os anos em que estiverem em missão) é insuficiente. O aumento do custo de vida piorou a situação financeira de muitos que já viviam com poucos recursos. “Eu recebo 150 euros por mês, mas há colegas que só têm 70 euros e reformas muito pequenas. Como é que conseguem pagar as contas no final do mês?”, questiona.  
Já Eduardo Ribeiro, 72 anos, partiu para a Guiné “já depois do 25 de abril”, para “assegurar a evacuação do dispositivo militar”. Marcou presença no protesto em solidariedade com “os colegas mais desprotegidos que ainda têm traumas de guerra”. O antigo combatente denunciou, ainda, que existem “cerca de 2 mil sem abrigo que estiveram no Ultramar” e considera que é “urgente tirar da rua esses colegas que arriscaram a vida por este país”, afirma.   
Recorde-se que em março de 2022, Virgílio Manuel, ex-combatente da guerra do Ultramar, esteve mais de quatro dias a fazer uma greve de fome na escadaria do Parlamento em protesto por apenas receber uma pensão de 287 euros. Na altura, o antigo combatente denunciou que são muitos os ex-militares com deficiência, como ele, que sobrevivem com esse valor e exigiu reformas equivalentes ao salário mínimo.   
* Abílio T. Ribeiro in Jornal de Notícias - 22.7.2023