Na gíria futebolística,
poder-se-ia dizer; “Ronaldo e mais dez”, porque uma equipa que tem um craque
que está a “anos luz” dos outros, acaba por jogar e agir em torno da estrela.
Feliz ou infelizmente, na seleção portuguesa, tem sido assim desde que Ronaldo
emergiu como uma “estrela maior” do futebol desta última década. O êxito da
“nossa equipa” depende muito da eficácia e inspiração de Ronaldo, porque, alem
de ser um excelente futebolista, ele é também um verdadeiro atleta e líder, que
puxa a equipa para os êxitos.
Além dos êxitos
desportivos ou por força destes, na seleção portuguesa e ainda mais nos dois
grandes clubes por onde passou - Manchester United e Real Madrid -, depois de
ter sido transferido Sporting, ainda jovem, Ronaldo tem sido o maior embaixador
de Portugal, levando o nome do nosso país aos “quatro cantos do mundo”. Se para
muitos, ele é um verdadeiro ídolo, para outros ele é o “adversário a abater”,
porque a inveja é um pecado capital, incluindo muitos portugueses. Mas os
êxitos pessoais mostram que Ronaldo vai ficar na historia do futebol mundial
por muitos anos, ao lado de muitos ídolos do passado, mas também dum grande
jogador argentino da atualidade - Lionel Messi. Contudo, este é um genial
futebolista, qual verdadeiro rato atómico, enquanto Ronaldo pode ser
considerado um autêntico atleta, isto é, equiparado aos atletas da Grécia
antiga. Infelizmente para nós, portugueses, o final do futebolista Ronaldo
aproxima-se do fim da sua carreira, deixando um vazio no universo futebolista,
pois não se vê, no presente, nenhum jogador que possa seguir as peugadas de
Ronaldo ou mesmo de Luís Figo, o seu antecessor no estrelato português e
mundial.
Mas Ronaldo não tem
sido apenas um futebolista, dentre os melhores de sempre, como milhares de
outros de elevado valor futebolístico, pois ele é um exemplo e uma referência,
como homem, apesar dalgumas “extravagâncias”, próprias de alguém com muito
dinheiro, e algumas originalidades no campo da paternidade, que só a ele dizem
respeito. Desde a sua origem social e a “solidão e falta de apoio familiar”
que, mesmo em ambientes de pobreza, as crianças e os jovens preferem a outros
bem melhores materialmente, aquando da sua vinda do Funchal para Lisboa, aos 14
anos para o “lar do jogador” do Sporting, Ronaldo deu mostras que os grandes
homens vencedores na vida, seja qual for a área profissional, se moldam com as
características que ele, desde criança, deu mostras. Ele é o exemplo perfeito
dos vencedores, ainda com maior mérito, porque partiu do grau mais baixo da
pirâmide social e que, por isso, a primeira grande de vitória de cada um é
vencer esse fatalismo. É uma tarefa de “sangue, suor e lágrimas”, mas, cada
etapa, é celebrada, muitas vezes em solidão, como uma grande vitória pessoal.
Sei do que falo.
Ronaldo é também um
excelente exemplo para muitos dos futebolistas que ganhando muito dinheiro ou
mesmo “rios de dinheiro”, porque uma percentagem elevada deles, do topo, acabam
a carreira, por volta dos trinta e poucos anos, sem poupanças, pois tudo
gastaram em luxos e extravagâncias. E, mais triste ainda, sem nada saberem
fazer profissionalmente, pois a sua formação escolar é média-baixa e, pior
ainda, cheios de vícios. A idade com que eles acabam a carreira futebolista, é
sensivelmente aquela em que muitos outros cidadãos se iniciam na vida ativa
regular. Durante cerca de década e meia, eles viveram em torno do futebol e
descuraram a sua formação escolar e profissional e, infelizmente, acabam por
cair no meio social donde vieram, mas com muitos vícios e sem horizontes
profissionais. São poucos os exemplos dos desportistas que souberam gerir os
seus proveitos e também investir na sua formação escolar e profissional. Esta é
uma área onde os clubes falham, aquando da formação futebolística, mas também
já na plenitude do futebol sénior (jogador acima dos 19 anos), em todas as
divisões das competições, embora nesta fase os seus agentes, que vivem, alguns
luxuosamente, do agenciamento dos contratos daqueles, sejam moralmente
responsáveis, porque a sua função deveria ser também de aconselhamento e de
gestão dos proveitos dos seus agenciados. Alguns são mesmo os “coveiros da desgraça”
de muitos jovens futebolistas e não só. Não nos esqueçamos que a vida dum
futebolista se situa numa fase de muita imaturidade do homem e que, por isso,
sonhos, pressão e dinheiro podem levar a “maus caminhos”. Ora Cristiano
Ronaldo, apesar de pertencer a outro universo futebolístico, deveria ser olhado
por todos os candidatos a futebolistas e também por todos aqueles já bem
posicionados no “mundo da bola”, como exemplo a seguir, porque ele é um
vencedor.
Aliado à sua elevada autoestima, a ambição e capacidade de sacrifício
fizeram dele um ÍDOLO, (sem pés de barro). Ele faz questão, como em tempos
disse publicamente, de não “cuspir no prato onde comeu”, numa alusão ao reconhecimento
para com todos aqueles que contribuíram para o seu sucesso, principalmente ao
Sporting (e seus tutores) e ao Manchester United, cujo “manager “(Sir Alex
Ferguson) foi e o considera como um pai. A verdadeira “escola” dos futebolistas
são os clubes por onde passam, muitos desde tenra idade, e alguns esquecem-se
disso. A humildade não está em paralelo com origem social da maioria dos
jogadores.
Pena é que Ronaldo já
esteja a acabar…
Serafim Marques - Economista