A LUTA PELA LIBERDADE
JÁ ESTOU NA TERCEIRA IDADE
CONTO QUEIXUMES DA VIDA
MAS LUTO P´LA
LIBERDADE
NÃO TENHO A ESP´RANÇA PERDIDA
Eu fui ajuda de gado
Era ainda uma criança
Ficou-me bem na lembrança
Esse tempo amargurado
Cheio de frio e molhado
Em dias de tempestade
Trabalhei depois mais tarde
Em companha de ganhões
Sempre a levar encontrões
JÁ ESTOU NA TERCEIRA IDADE.
Assim passei as semanas
Passeio os meses e os anos
Nos campos Alentejanos
E a dormir pelas cabanas
Tantas pessoas humanas
Que morreram nesta lida
Tenho ainda a dor sentida
De tanto ser torturado
Ao recordar o passado
CONTO QUEIXUMES DA VIDA.
A trabalhar noite e dia
Foi até que envelheci
Tão oprimido vivi
Qu´até nem falar podia
O Salazar assim queria
Ver toda a Humanidade
P´ra governar à vontade
Sem ninguém se revoltar
Já estou velho p´ra lutar
MAS LUTO PELA LIBERDADE.
Bento de Jesus Caraça
Lutou p´la educação
P´ra libertar a nação
Do atraso e da desgraça
Há-de haver mais quem o faça
A luta não está esquecida
Será feito em seguida
Tudo o que ele pretendia
Que haverá Democracia
NÃO TENHO A ESP´RANÇA PERDIDA.
Anastácio Pires (orvalhos)
“Há tanta ideia perdida...” – 28/5/1983