VÊM DE LONGE
Vêm de longe
De muito longe
Em data certa
Foram p´ra longe
P´ra muito longe
Esperança perdida.
Nas promessas vagas
Dum Abril distante
Foram muitos
Muitos e muitos
Os que buscaram
Outros brazis
Outras esperanças
Aqui bem perto
Viver melhor
Ter dignidade
Ter o conforto
Antes negado
Vêm de longe
De muito longe
Sem data certa
Matar saudades
Acarinhar o sonho
De votar à Esperança
Esperança perene
No sentir dum povo
O regresso adiado
O regresso sonhado
Vai ser um dia
Sem dia marcado.
Francisco Narciso
in “Notícias de Nisa” 25/8/1995
Emigrantes em férias
Cumprem um rito todos os anos repetido. Voltar à terra que
os viu nascer, matar saudades, ver a família e os amigos.
As esplanadas enchem-se de emigrantes. Nas ruas, as matrículas
estrangeiras dos carros, sobretudo francesas, são o sinal mais visível da sua
presença.
Nos anos sessenta, muitos foram os que deixaram tudo para,
noutras paragens, poderem ter uma vida melhor.
Vivia-se então num país atrasado e e isolado do resto mundo.
A emigração fazia-se “a salto” sem papéis nem passaportes. Foi a época áurea
para os “negreiros” dos tempos modernos: os “passaportes” que cobravam a troco
de somas elevadas, contra promessas muitas vezes falsas.
Em 1974, ano da Revolução de Abril, muitas afirmações e
promessas foram feitas, nomeadamente a do regresso dos nossos emigrantes, já
que haveria lugar para todos. Que a necessidade de buscar noutras terras o pão
nosso de cada dia ia desaparecer...
Passados vinte e tal anos, tal promessa não está
concretizada, pelo contrário. Poucos voltaram e muitos continuam a partir à
aventura, sem destino certo.
Assistimos hoje à presença, na sua terra, durante a época de
férias, a presença de uma geração nova já nascida no estrangeiro. Muitos
luso-franceses que não renegaram as suas raízes. Que gostam de ver e estarnos sítios
que os seus pais foram obrigados a abandonar...
Dificilmente virão para ficar.
No entanto, este mês de Agosto é tempo de reencontro de
amigos e de convívios com a família, de rever sítios e coisas que lhes ficaram
na memória.
É uma alegria efémera, que é repetida cada ano.
António Conicha in “Notícias de Nisa” – 25/8/1995