25.7.16

CRÓNICAS DA TABANCA: Mentes Ardentes

“Matheus Mathisse tem um blog, onde escreve a dizer, uma vezes bem de mim, outras mal. A maior parte das vezes a dizer mal, mas estamos em democracia e eu sou uma pessoa muito democrááááááááááááática, entendem? O que posso fazer? É bom que falem de nós, é sinal que mexemos e estamos vivos. Mas fico triste, porque eu faço tudo para levantar este concelho de Nhabula, ainda há pouco saímos da Naturalejo, uma associação que não fez nada pelo município e pouca gente entende todo o esforço que em nome do Partido da Savana eu estou a fazer”- disse Isaltina Sôdade.
A presidente da Câmara de Nhabula falava no Palácio das Hortaliças durante a apresentação do livro “Gentes Carentes” da autoria de Cesário Oliva, da Rádio Bolanha e que integra diversas entrevistas a pessoas do concelho de Nhabula e que passaram naquela rádio.
Sem parar e como se tivesse a incumbência de servir de presidente de alguma comissão regional de Censura e de análise ao livro, Isaltina foi tecendo loas e louvores a cada um dos entrevistados do concelho referidos em “Gentes Carentes”, todos eles sem possuírem blog no qual pudessem afrontar ou pôr em causa a doutrina de Sua Eminência.
“ Os blogs, tal como alguns jornais, são um perigo nos tempos que correm – prosseguiu Isaltina Sôdade. “Os seus detentores nem imaginam o sacrifício que fazemos a trabalhar para as pessoas. Mas nós vamos continuar este esforço, ignorando as críticas subversivas (onde é que eu já ouvi isto?). Porque a verdade é só uma. Aliás, só a verdade é recta, mesmo se escrita por linhas tortas e ínvios caminhos. Aqui, em Nhabula, somos campeões da transparência. Vejam-se, como exemplo, as actas da Câmara aprovadas seis e sete meses depois ou, ainda, as da Assembleia Municipal que, nesse campo, batem todos os records: são aprovadas mais de um ano depois e colocadas no site do Município no mandato seguinte. Eu peço desculpa, sei que o senhor Cesário Oliva quer falar sobre o livro, mas não podia deixar passar esta oportunidade, para explicar aos ouvintes da Rádio Bolanha aquilo que estamos a fazer por Nhabula.
Em primeiro lugar, queremos que Nhabula seja a “Capital Pimba” da região e do país. Demos já um grande passo, com a transmissão em directo de um programa televisivo que trouxe um mar de gente à Praça da Independência. Na sede do concelho fizemos obras sem grandes gastos e projectos e uma delas, a rua Túlio Trasso, é um regalo para os olhos e símbolo da arte pimbólica que pretendemos implementar.
Vamos enfrentar e vencer novos desafios, pois nós, aqui, andamos a remar contra a maré. Enquanto no país, após 40 anos, a esquerda (oh, que horror!) uniu-se e formou governo, nós seguimos fiéis aos nossos princípios e mantemos uma aliança savanista-francófona, que já tem mais de 20 anos. É ela que garante a estabilidade “democrática” do regime local e que governemos sem sobressaltos, graças ao apoio do Partido Sândalo Damasqueiro que tudo aprova.”
Isaltina Sôdade pousou o microfone para fazer uma pausa, facto que Cesário Oliva aproveitou para usar da palavra e falar, finalmente, do livro “Gentes Carentes”, enaltecendo as gentes de Nhabula, uma terra de muitos e grandes artistas em diversos campos da cultura.
Disse ser sua intenção voltar a recolher mais entrevistas para a elaboração do programa na Rádio Bolanha e considerou gratificante a publicação de “Gentes Carentes” e a divulgação de tantas figuras da cultura popular, elogios a que Isaltina Sôdade não ficou indiferente.
“ Venha mais vezes a Nhabula, as vezes que quiser, mas, por favor, dê-nos uma palavrinha antes. Não sei se entendeeeeeeeee? Podemos, sempre, sugerir os nomes a serem entrevistados. De gente de valor, com mérito, percebeeeeee?”
A apresentação estava a chegar ao fim e, num impulso, Zacarias Indjaló, vereador savanista levantou-se da cadeira e gritou a plenos pulmões: Assim se vê a força que não engana! Viva o Partido da Savana! Savana! Savana! Savana! Savanaaaaaa!
A plateia estava ao rubro (salvo sejaaaaaa!) e Isaltina Sôdade dirigiu-se a um dos entrevistados do livro: “ Ó maestro Vitorino Baldé, toque lá qualquer coisa no seu violino. Uma “coisa” popular, assim tipo Nel Sobreiro, Tó Zé Galhoa ou Jóni das Carreiras. Apetece-me cantar. Eu sou uma romântica, entendeeeeeeeeem?
O fim da tarde foi descendo lentamente sobre o Palácio das Hortaliças, a noite aproximava-se e a sessão terminou.
Hoji Ya Enda