“Matheus Mathisse tem um blog,
onde escreve a dizer, uma vezes bem de mim, outras mal. A maior parte das vezes
a dizer mal, mas estamos em democracia e eu sou uma pessoa muito
democrááááááááááááática, entendem? O que posso fazer? É bom que falem de nós, é
sinal que mexemos e estamos vivos. Mas fico triste, porque eu faço tudo para
levantar este concelho de Nhabula, ainda há pouco saímos da Naturalejo, uma
associação que não fez nada pelo município e pouca gente entende todo o esforço
que em nome do Partido da Savana eu estou a fazer”- disse Isaltina Sôdade.
A presidente da Câmara de Nhabula
falava no Palácio das Hortaliças durante a apresentação do livro “Gentes
Carentes” da autoria de Cesário Oliva, da Rádio Bolanha e que integra diversas
entrevistas a pessoas do concelho de Nhabula e que passaram naquela rádio.
Sem parar e como se tivesse a
incumbência de servir de presidente de alguma comissão regional de Censura e de análise ao
livro, Isaltina foi tecendo loas e louvores a cada um dos entrevistados do
concelho referidos em “Gentes Carentes”, todos eles sem possuírem blog no qual
pudessem afrontar ou pôr em causa a doutrina de Sua Eminência.
“ Os blogs, tal como alguns
jornais, são um perigo nos tempos que correm – prosseguiu Isaltina Sôdade. “Os
seus detentores nem imaginam o sacrifício que fazemos a trabalhar para as
pessoas. Mas nós vamos continuar este esforço, ignorando as críticas
subversivas (onde é que eu já ouvi isto?). Porque a verdade é só uma. Aliás, só
a verdade é recta, mesmo se escrita por linhas tortas e ínvios caminhos. Aqui,
em Nhabula, somos campeões da transparência. Vejam-se, como exemplo, as actas
da Câmara aprovadas seis e sete meses depois ou, ainda, as da Assembleia
Municipal que, nesse campo, batem todos os records: são aprovadas mais de um
ano depois e colocadas no site do Município no mandato seguinte. Eu peço
desculpa, sei que o senhor Cesário Oliva quer falar sobre o livro, mas não
podia deixar passar esta oportunidade, para explicar aos ouvintes da Rádio
Bolanha aquilo que estamos a fazer por Nhabula.
Em primeiro lugar, queremos que
Nhabula seja a “Capital Pimba” da região e do país. Demos já um grande passo,
com a transmissão em directo de um programa televisivo que trouxe um mar de
gente à Praça da Independência. Na sede do concelho fizemos obras sem grandes
gastos e projectos e uma delas, a rua Túlio Trasso, é um regalo para os olhos e
símbolo da arte pimbólica que pretendemos implementar.
Vamos enfrentar e vencer novos
desafios, pois nós, aqui, andamos a remar contra a maré. Enquanto no país, após
40 anos, a esquerda (oh, que horror!) uniu-se e formou governo, nós seguimos
fiéis aos nossos princípios e mantemos uma aliança savanista-francófona, que já
tem mais de 20 anos. É ela que garante a estabilidade “democrática” do regime
local e que governemos sem sobressaltos, graças ao apoio do Partido Sândalo
Damasqueiro que tudo aprova.”
Isaltina Sôdade pousou o
microfone para fazer uma pausa, facto que Cesário Oliva aproveitou para usar da
palavra e falar, finalmente, do livro “Gentes Carentes”, enaltecendo as gentes
de Nhabula, uma terra de muitos e grandes artistas em diversos campos da
cultura.
Disse ser sua intenção voltar a
recolher mais entrevistas para a elaboração do programa na Rádio Bolanha e
considerou gratificante a publicação de “Gentes Carentes” e a divulgação de
tantas figuras da cultura popular, elogios a que Isaltina Sôdade não ficou
indiferente.
“ Venha mais vezes a Nhabula, as
vezes que quiser, mas, por favor, dê-nos uma palavrinha antes. Não sei se
entendeeeeeeeee? Podemos, sempre, sugerir os nomes a serem entrevistados. De
gente de valor, com mérito, percebeeeeee?”
A apresentação estava a chegar ao
fim e, num impulso, Zacarias Indjaló, vereador savanista levantou-se da cadeira
e gritou a plenos pulmões: Assim se vê a força que não engana! Viva o Partido
da Savana! Savana! Savana! Savana! Savanaaaaaa!
A plateia estava ao rubro (salvo
sejaaaaaa!) e Isaltina Sôdade dirigiu-se a um dos entrevistados do livro: “ Ó
maestro Vitorino Baldé, toque lá qualquer coisa no seu violino. Uma “coisa”
popular, assim tipo Nel Sobreiro, Tó Zé Galhoa ou Jóni das Carreiras.
Apetece-me cantar. Eu sou uma romântica, entendeeeeeeeeem?
O fim da tarde foi descendo
lentamente sobre o Palácio das Hortaliças, a noite aproximava-se e a sessão
terminou.
Hoji Ya Enda