Portugal deve intervir mais ativamente no sentido de minorar
as ameaças à conservação dos peixes de água-doce nacionais
Hoje, dia 28 de Julho, comemora-se o Dia Nacional da
Conservação da Natureza. Neste dia, apesar de várias serem as problemáticas, no
âmbito da Conservação da Natureza, para as quais se poderia alertar, a Quercus
decidiu destacar no entanto, a questão da conservação dos peixes de água-doce
como o tema central deste ano. Nesta área em concreto, a Quercus tem vindo a divulgar
e a envidar esforços no sentido de promover diversas ações minimizadoras de
impactes negativos sobre os cursos de água nacionais, assim como recuperar
algumas das espécies de peixes de água-doce criticamente ameaçadas. Agora, é
altura de também o Estado Português investir mais e melhor nesta área.
O crescimento demográfico exponencial, as infraestruturas
turísticas e as atividades de produção tem levado à drenagem e à poluição de
zonas húmidas, responsáveis pela destruição de numerosos habitats, colocando em
risco a riqueza faunística e florística que estes ecossistemas albergam. No
fundo, todas as ações e atividades passíveis de provocar alterações
significativas nos sistemas aquáticos e ribeirinhos e a sua desnaturalização
constituem ameaças às espécies autóctones e endémicas.
Os cursos de água nacionais enfrentam fortes pressões,
encontrando-se sujeitos a séria degradação. Situações como as descargas de
efluentes industriais ou pecuários, contaminantes dos cursos de água, o aumento
inevitável de verões prolongados e com pouca ou nenhuma chuva, colocam enormes
ameaças à sobrevivência dos organismos fluviais, nomeadamente do grupo dos
peixes. A estas ameaças acresce a presença e proliferação de animais ou plantas
de espécies exóticas, invasoras, com efeitos devastadores para as populações
nativas.
Considera-se a construção de barragens como a maior ameaça e
com elevadíssimos impactes negativos nas espécies de peixes dulçaquícolas, em
particular se se considerar todos os impactes provocados desde a sua construção,
o que por si só implica a perda de grandes áreas de habitats a montante e a
jusante. Acresce a estes impactes o efeito de barreira, provocando a
fragmentação e o isolamento de populações das diferentes espécies com
consequente descontuidade das populações.
Peixes de água-doce ameaçados
Dentro das espécies de peixes de água-doce presentes nos
ecossistemas fluviais portugueses, destacam-se algumas espécies endémicas cuja
situação é de elevado risco de ameaça e que tem sido objeto de medidas especiais
de conservação: a boga do Oeste (Achondrostoma occidentale), a boga portuguesa
(Iberochondrostoma lusitanicum), o escalo do Mira (Squalius torgalensis), o
escalo do Arade (Squalius aradensis), a boga do Sudoeste (Iberochondrostoma
almacai) e o saramugo (Anaeceprys hispanica).
A Quercus está ativamente a intervir através de medidas
minimizadoras que constituem ações no sentido de contrariar as ameaças para
estas e outras espécies e intervindo em duas frentes, sendo que numa delas
reproduz exemplares destas espécies em cativeiro e efetua ações de
repovoamento. Noutras situações em que existem habitats destas espécies muito
degradados, realiza ações de recuperação de linhas de água para posterior
reintrodução dos espécimes reproduzidos.
O papel do Estado Português
Contudo, é igualmente necessário que o Estado Português
invista mais e melhor nesta área, de modo a que seja ainda possível recuperar
algumas destas espécies seriamente ameaças de extinção. Algumas dessas medidas
de conservação passam pela melhoria da qualidade da água dos nossos cursos de
água, através da construção de mais infraestruturas de tratamento de efluentes
domésticos e industriais, e pela consolidação e renaturalização das suas
margens. Também o restabelecimento da conectividade fluvial, um controlo mais
eficaz sobre a pesca ilegal e medidas de erradicação das espécies invasoras
seriam fundamentais ao sucesso de um sério plano de recuperação dos peixes de
água-doce que deveria ser implementado a nível nacional.
Salienta-se que a Quercus continuará a colaborar ativamente,
contribuindo com projetos e iniciativas em parceria com outras entidades
públicas e privadas, para que a área da conservação da natureza e da
biodiversidade seja uma prioridade numa vertente de atribuição de
financiamentos na política pública de ambiente. Para além disso, a Quercus
manterá a sua natural e histórica estratégia de educação dos mais jovens e de
sensibilização para as questões ambientais e de conservação da natureza junto
de toda a sociedade portuguesa.
Lisboa, 28 de Julho de 2016
A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de
Conservação da Natureza