As câmaras municipais são as maiores agências de
emprego do País.
A integração de "boys" partidários nos
quadros de pessoal das câmaras e empresas municipais é regra e, com a
aproximação da data das eleições autárquicas, adivinha-se um despautério de
admissões e nomeações em catadupa.
Esta situação é particularmente expressiva no que
diz respeito aos dirigentes que, nas juventudes partidárias, organizam as
campanhas eleitorais e arregimentam votos. Uma vez instalados nos seus
"tachos", continuam por norma a trabalhar ao serviço dos partidos,
mas remunerados à custa dos municípios. Ao longo dos últimos anos, este
fenómeno agravou-se de tal forma que algumas empresas municipais mais parecem
sedes partidárias dissimuladas.
Contudo, é nos municípios mais pequenos, alguns
com apenas quatro ou cinco mil eleitores, que este problema se torna ainda mais
grave e dramático no plano social. Nesses municípios, a obtenção de um qualquer
emprego, ou a promoção numa função, depende quase exclusivamente do presidente
de câmara local. Isto porque o maior empregador no concelho é a câmara; o
segundo maior é, por regra, a misericórdia local ou alguma instituição de solidariedade,
que atua em conúbio com o poder autárquico. Segue-se-lhes a administração
central descentralizada, de forte dependência política, ou eventualmente uma
empresa de média dimensão… amiga da câmara. Com esta estrutura de emprego, só o
presidente de câmara e os caciques que dele dependem conseguem atribuir
empregos que, em regra, beneficiam afilhados e familiares do presidente, os
militantes do partido e os apaniguados das redes clientelares. Claro que a sua
seleção raramente resulta do seu currículo ou das suas competências.
Estas práticas reiteradas, nomeadamente nos
pequenos concelhos do interior, consolidam, na maioria do território nacional,
a ideia de que o estudo, a formação e o esforço de nada adiantam. Fazem vingar
a tese de que a qualidade do desempenho é irrelevante para ocupar um qualquer
cargo. A qualidade não constitui critério de escolha de colaboradores, ou de
progressão nas carreiras. A estrutura de recursos humanos está invertida. O
profissionalismo foi dizimado pelo clientelismo.
Paulo Morais - Fio de Prumo - "Correio da Manhã" - 16/4/2013