18.4.12

A (Des)propósito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios

LÁGRIMAS DE CROCODILO(S) - A verdade da mentira
Debaixo daquela árvore, imponente e frondosa, trocaram-se mil promessas de amor, juras de fidelidade, sonhos e projectos para uma vida, muitas vidas.
Talvez, por isso, ficou conhecida como a Árvore da Verdade, na mentira que foram alguns dos episódios que testemunhou.
Por causa dela – da árvore – altiva e verdadeira, fizeram-se projectos de mentira. Destruíram-se recantos e paisagens, criados, de raiz, há mais de 70 anos.
Tudo em nome de um progresso e de uma nova “febre arquitectónica” que sustenta o ego dos políticos e destrói a memória dos sítios, das vilas e das cidades. Até aqui, a globalização urbanística chegou...
A Árvore, nascida há muitas dezenas de anos, tinha, também, de morrer, não de pé, como na pujante interpretação de Palmira Bastos, mas de uma morte triste, violenta, preparada. Diríamos, mesmo, premeditada.
Dilaceraram-lhe as raízes e a árvore, outrora plena de força, definha, agora, em cada dia que passa.
Matam-nos as memórias, as referências de um passado que vivemos, os suportes da ponte entre passado, presente e futuro.
Será que ninguém será, um dia, responsabilizado por tais crimes?
As lágrimas da fonte
Não falarei mais da retirada da fonte do Rossio, dos vários atropelos cometidos, num só. O poder manda, por isso é poder. Mas não é mais poder, sobretudo, não é melhor poder por mandar, mas sim por mandar com critério, bom senso e uso da razão.
Mudou-se a fonte, serviram-se as clientelas, apagou-se o fogo-fátuo dos protestos. Ao menos e se assumiram, politicamente, a transferência da fonte, que tratassem o monumento – que não tem culpa de nada – com a atenção, o carinho e o respeito que merecia. Desmontaram-na à pressa, sem cuidado e com a mesma força bruta a instalaram.
Era preciso mostrá-la, com urgência, mesmo desfigurada. Partiram-lhe apoios, artérias e membros de um mesmo corpo. Assim, debilitada, ferida e estropiada, a colocaram no sítio onde está.
Ali está, mostrando as suas mazelas e as do poder local que permitiu, sem as cautelas e o acompanhamento indispensável, uma mudança e instalação tão atribuladas.
Para fazerem tal serviço, melhor fora que a deixassem no exacto local onde foi inaugurada em 1932.
Mário MendesJornal de Nisa - 1ª série – nº213 – 23/8/2006
NOTA: Assinala-se, hoje, dia 18 de Abril, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. Algumas associações e autarquias do país, lembram esta data com iniciativas dando a conhecer os patrimónios locais.
Em Nisa, estão agendadas visitas ao castelo de Amieira do Tejo e ao Conhal. Em dia de reunião do executivo, teria sido uma excelente ideia mostrar aos eleitos, não só da Câmara como da Assembleia Municipal, o estado calamitoso em que se encontra o designado Centro Histórico.
Seria também a oportunidade de os eleitos locais poderem apreciar as novas "tendências" da arquitectura e do urbanismo, entre estas, a "genial ideia" de tapar com pano de tijolo e cimento, as portas do que foram antigas moradias. Quem não souber, julgará que uma epidemia de "peste negra" tomou conta do "Centro Histórico" e que tais medidas de "emergência" visaram impedir o alastramento da doença....
Forma bizarra de lembrar um Dia Internacional ligado ao património.
Mário Mendes